Combate à Fome em FOCO | Análises e Estudos  


Conteúdo enviado por Luiz Eduardo, Mobilizador COEP do Rio de Janeirox

Fome: com 33,1 milhões de pessoas sem comida no prato, Brasil regride três décadas 

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Por: Marcelo Bertoldo

Pesquisa no contexto da pandemia confirma rápido avanço da fome em território nacional

O número de pessoas com fome aumentou em todo o país. Cerca de 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer diariamente. Em números absolutos, 14 milhões estão em situação de fome. Foi o que revelou nesta quarta-feira, 8, o alarmante levantamento do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).
“A preocupação é tão grande quanto a frustração. Estamos avaliando os piores dados da história, índices maiores do que os registrados na década de 90. É um cenário chocante, aterrador. E isso tem um significado enorme e triste. O Brasil um dos maiores produtores de alimentos do mundo? Na prática essa narrativa não é real, pois 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer todos os dias”, destacou
Rodrigo Kiko Afonso, diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania.

Em três anos, o Brasil regrediu para o patamar semelhante ao da década de 90, quando a ‘Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida’, ONG fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, iniciou o movimento para combater a fome que batia à porta de mais de 30 milhões de brasileiros. Após deixar o Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2013, passo importante no caminho à promoção do direito humano à alimentação adequada e saudável, o Brasil voltou ao trágico ranking em 2018, e não saiu mais.

Após voltar muitas casas no ‘tabuleiro da fome’, o cenário de incerteza sobre ter o que comer passou a ser uma realidade para a mais da metade da população: 58,7% dos brasileiras convivem com a insegurança alimentar em algum grau (leve, moderado ou grave). O processo de pobreza é crescente no país desde 2015. A pandemia de covid-19 acelerou o estado de flagelo, em especial nas áreas rurais no Norte e Nordeste do país. No entanto, não é preciso mergulhar no chamado Brasil ‘profundo’ para confirmar os fatos. Nas metrópoles do país o número de pessoas em situação de ruas é um pequeno recorte do Mapa da Fome.
Dados do 1º inquérito, divulgados em abril de 2021, revelaram que cerca de 19 milhões de brasileiros não tinham o que comer em 2020, cerca de nove milhões a mais do que em 2018, quando essa parcela da população somava 10,3 milhões de pessoas. No país que se orgulha dos recordes de safra do agronegócio, que, segundo os ‘mágicos’ números repetidos pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), garante a segurança alimentar de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo, o paradoxo criado pela falta de comida no prato de 33,1 milhões fica difícil de ‘digerir’.
“O discurso que não reflete à realidade, pois a produção que chega à mesa dos brasileiros. O agronegócio visa à exportação e não representa benefícios efetivos na mesa do povo que vive em situação de fome. O agro foca produção de alimentos ultra processados, de animais… Não de frutas, legumes, grãos… Alimentos básicos na mesa do brasileiro”, disse Afonso.
O desmonte de políticas públicas de incentivo ao pequeno agricultor, processo iniciado pelo governo de Michel Temer e consolidado na gestão Bolsonaro, tem impacto direto nos números divulgados pela pesquisa. A ideologia que pauta a família, o patriotismo, armamento, liberdade de expressão e Deus, embora o Estado seja laico, o bolsonarismo não colocou o combate à fome, garantido pela Constituição Federal, não foi uma prioridade do governo, na avaliação de Afonso.
“Temos as crises causadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, mas as narrativas de que o mundo todo passa fome encobrem outro lado da realidade. A insegurança alimentar tem aumentado desde 2015 no país. Hoje, quase 68% estão nessa situação. O que diferenciava é que tínhamos políticas públicas que faziam alimentos chegar à mesa. Programas que foram destruídos. O pequeno agricultor não tem apoio do governo. Infelizmente, não houve visão para criar alternativas para garantir a segurança alimentar no pais. São consequências de decisões politicas. A fome é uma decisão politica. Não falta dinheiro, sim, vontade”, concluiu Afonso.
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Fonte: O Dia