Em 2002, um projeto intitulado “Algodão: Tecnologia e Cidadania” surgiu como uma alternativa para se alcançar o desenvolvimento socioeconômico de 5 comunidades do Semiárido nordestino por meio da retomada da produção de algodão na agricultura familiar. Um diagnóstico realizado nessas localidades revelou outros aspectos de relevância além do tema “Geração de Renda” . Agir em áreas relacionadas à disponibilidade de água para consumo e agricultura; produção animal e vegetal; saneamento; saúde, gestão e organização comunitárias. dentre outras,mostrou-se como questão fundamental para que se estabelecesse um quadro favorável ao desenvolvimento socioeconômico dessas localidades.

Nesse contexto, surgiu o Programa Pólos de Desenvolvimento Comunitário Integrado com o objetivo de implementar iniciativas de referência para o desenvolvimento econômico e social em comunidades dos municípios envolvidos no “Projeto Algodão”, irradiando-se às populações vizinhas através do compromisso de repasse das tecnologias adquiridas, Mais do que disponibilizar tecnologias e recursos, em áreas como “Água”, “Energia” e “Segurança Alimentar” o programa investiu na capacitação técnica e gerencial das comunidades, criando condições para que os beneficiários fortalecessem seu protagonismo no processo de desenvolvimento.

As principais atividades do projeto envolveram:

  • Implantação de unidades demonstrativas de cisternas
    A cisterna é uma tecnologia instalada nas propriedades familiares, que permite o armazenamento de 16 mil litros de água das chuvas. Durante o período chuvoso a água é captada através de calhas colocadas nos telhados das residências e levada até esses reservatórios para uso no período de seca. Uma parte das cisternas foram construídas em parceria com a ASA – Articulação no Semiárido Brasileiro, atendendo aos critérios estabelecidos pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC ).
  • Implantação de unidades demonstrativas de barragens subterrâneas
    A barragem subterrânea é uma tecnologia de convivência com o semiárido, instalada para favorecer cultivos em épocas mais secas. O sistema funciona com a interrupção do fluxo subterrâneo de água, durante o período chuvoso. A construção da barragem é feita por meio de corte transversal do solo e aplicação de lona plástica, de modo a reter a água, tornando uma parte do terreno mais úmida e possibilitando assim, a prática de diversas culturas, mesmo em período de seca, com finalidade de alimentação animal e humana.
  • Implantação de sistema de criação colaborativa de caprinos e ovinos
    A criação de caprinos e ovinos é uma atividade tradicional na região nordestina. A implementação da atividade teve como objetivo atender a subsistência e gerar renda para as famílias envolvidas.

Pretendeu-se com a instalação desta tecnologia um melhoramento da qualidade do rebanho, de forma a agregar valor aos animais, aumentando a renda familiar. As famílias de agricultores receberam lotes de matrizes e as associações comunitárias reprodutores puros de origem.

As famílias beneficiárias realizaram o repasse à associação das crias fêmeas de seu rebanho, em quantidade igual ao das recebidas. A cada lote recebido pela associação, esta realizou um novo repasse, beneficiando mais uma família da comunidade, que se comprometeu a dar continuidade ao processo. Desta forma a criação de animais foi se estendendo a toda comunidade, até que fossem atendidas todas as famílias interessadas na ação, depois o repasse seguiu para outras comunidades.

Com a finalidade de garantir a sustentabilidade desse sistema de criação, oferecendo alimento de qualidade e facilitando o trabalho dos criadores, foram entregues 21 máquinas desintegradoras, para o corte de plantas, que servem de alimento para os animais.

Ainda, a fim de possibilitar maior controle físico dos rebanhos de caprinos e ovinos, foram adquiridas máquinas para confecção de telas de arame, para que os agricultores pudessem cercar suas áreas de criação de animais. As máquinas foram entregues em uma associação comunitária de cada um dos 6 pólos de comunidades. Além disso foram implantadas áreas de palma forrageira para alimentação de parte dos animais.

• Implantação de fogões de queima limpa
O fogão de queima limpa é uma tecnologia desenvolvida experimentalmente para reduzir a emissão de gases poluentes, nocivos à saúde humana, que surgem na combustão da lenha. A instalação dos fogões permitiu a demonstração da tecnologia para uma experimentação pelas comunidades. Foram instalados 15 fogões demonstrativos em comunidades participantes.

  • Fortalecimento das associações comunitárias e do associativismo nas comunidades
    O processo de fortalecimento comunitário foi feito por meio da constituição de um Comitê Mobilizador e também de grupos já existentes em cada comunidade como grupo de jovens, de criadores, de monitores de telecentros, de mulheres, dentre outros.

O processo de capacitação realizado envolveu não somente grupos específicos, mas os moradores de forma geral. Foram realizadas diversas atividades de capacitação como encontros de agricultores, oficinas, cursos, palestras e assessoramento em campo.

As 26 comunidades envolvidas no projeto foram:

→ Alagoas: Quixabeira em Água Branca, Cacimba Cercada em Mata Grande e Campinhos em Pariconha.

→ Ceará: Espinheiro em Aurora, Anauá em Mauriti, Oitis em Milagres, Olho D’Água em Missão Velha e Engenho Velho em Barro.

→ Sertão da Paraíba: Barreiros em Cajazeiras, Pereiros em Bonito de Santa Fé, Batalha em Monte Horebe, Redondo em Cachoeira dos Índios e Lagoa de Dentro em São José de Piranhas.

→ Agreste da Paraíba: Pedra de Santo Antônio em Alagoa Grande, Uruçu em Gurinhém, Queimadas em Remígio e Ass. Margarida Maria Alves em Juarez Távora.

→ Pernambuco: Boi Torto em Bezerros, Pilões e Pedra Branca em Cumaru, Algodão do Manso em Frei Miguelinho, Furnas em Surubim e São João do Ferraz em Vertentes.

→ Rio Grande do Norte: Ass. J. Rodrigues Sobrinho em Nova Cruz, Tanques em Santo Antônio e Jacumirim em Serrinha

SAIBA MAIS
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>> Cadernos da Oficina Social 13 – A reintrodução da cultura do algodão no semiárido do Brasil através do fortalecimento da agricultura familiar: um resultado prático da atuação do COEP
>> Informativo Comunidade COEP (Edição maio 2006)
>> Informativo Comunidade COEP (Edição outubro 2006)
>> COEP implanta Pólos de Desenvolvimento Comunitário Integrado (Rede Mobilizadores)
>> https://comunidadescoep.org.br
>> Rede Comunidades Semiárido (YouTube)