Em conjunto com a Embrapa, o COEP apostou em mais uma iniciativa de desenvolvimento local comunitário. Acreditando no potencial do plantio do algodão no semiárido nordestino, a proposta foi inicialmente testada no município de Juarez Távora, na Paraíba. Sua metodologia previa a transferência de técnicas de cultivo, manejo do solo, processamento e outras tecnologias. Renato Cabral, sociólogo e técnico de desenvolvimento rural da Embrapa, participou de tudo desde o início: “A idéia era começar com um produto que gerasse dinheiro para as famílias e seguisse com outros componentes, como pequenos animais, água e tear”.
Ele continua a relembrar os passos iniciais do projeto: “O COEP pretendia atuar no semiárido, onde existiam 50% dos pobres do país. Fomos consultados e sugerimos a atuação na zona rural e a retomada da cultura do algodão, em sequeiro, pois é alternativa viável e de tradição. Fiquei de propor uma sugestão. Contatei o colega José Mendes, pesquisador da Embrapa Algodão, de Campina Grande, e disse-lhe que não era um projeto para produzir algodão, mas de desenvolvimento social/rural, no qual a âncora seria o algodão. Ele sugeriu um assentamento rural em Juarez Távora”.
Na primeira reunião com a comunidade, que contou com a participação de Gleyse Peiter, representando o COEP, houve uma mostra do que estava por vir. “Muita discussão entre agricultores, prefeito, vigário, líder comunitário, desconfianças de parte a parte, dificuldade de se entender o COEP, mas com uma aceitação geral para se discutir uma proposta. O vigário, de 1,90 metro de altura, sandálias Havaianas, camisa puída, idéias claras, levantou-se e desafiou o prefeito, às vésperas das eleições, a arrastar uma cruz, descalço, pela comunidade, em um morro de peregrinação local, debaixo do sol de sertão, caso não cumprisse as promessas daquela reunião”, relembra Renato Cabral.
Mas apesar de um padre tão decidido, o projeto não foi facilmente implantado. “Tudo aquilo foi tempo perdido. A terra do assentamento, já dividida e arada para os cultivos, foi retomada, pelo proprietário da fazenda, por medida judicial. Então, o projeto foi transferido para o atual assentamento Maria Margarida Alves. O projeto implicava a instalação de uma miniusina de processar algodão, que necessitava de energia elétrica trifásica, mas não havia. Então, o prefeito sugeriu instalar as máquinas na cidade. Fomos contra e dissemos que aí residia o problema. Era preciso deixar as famílias onde estavam, e não as levar para a cidade. Uma rede de 11 quilômetros trifásica seria necessária. Mobilizamos o governador da Paraíba e o pessoal da Chesf através do João Paulo Aguiar, representante da Chesf no COEP. Tivemos sucesso. A rede foi construída, as máquinas foram instaladas, e houve a inauguração. Muita gente, candeeiro apagado e máquinas funcionando. A alegria das famílias foi maior com a chegada da energia elétrica do que com o funciona- mento da miniusina. E nós estávamos felizes com o funcionamento da miniusina. Eram interesses diferentes”, conta Renato Cabral.
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