Combate à Fome em FOCO | Análises e Estudos  


Conteúdo enviado por Adriana Antunes, Mobilizadora COEP do Rio de Janeiro
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O que é insegurança alimentar? 

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Que uma alimentação saudável e variada é fundamental para a saúde de crianças, adultos e idosos, isso já é de conhecimento geral. Mas e quando os alimentos não estão disponíveis na quantidade, na variedade e na qualidade necessária?

Nesse caso, temos um grave e muito preocupante problema, que ultrapassa os aspectos nutricionais da alimentação e tangem questões políticas, econômicas, histórias e sociais. Estamos falando da insegurança alimentar, uma situação crítica que compromete a saúde individual, coletiva e até o desenvolvimento do país.

“É um termo utilizado quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente de alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência. Quem está em insegurança alimentar não tem quantidade e qualidade suficiente de alimentos pra sua vida”, diz a nutricionista Caroline Dalabona, que trabalha na Pastoral da Criança. “Isso significa uma violação de direito. A alimentação adequada e saudável, em quantidade e de forma permanente, é um direito de todo ser humano. A fome crônica é uma violação de direitos.”

E para além da ausência de alimentos, a insegurança alimentar também está relaciona à variedade e a qualidade daquilo que é consumido. Assim, é possível que uma pessoa até tenha acesso a alimentos, mas eles são tão pobres em nutrientes que ainda assim ela fica em uma condição de insegurança nutricional, formando os chamados “desertos alimentares’

“São lugares onde não chegam alimentos saudáveis, só os ultraprocessados, que não nos fornecem todos os nutrientes que precisamos. Aí ocorre a fome oculta: a pessoa tem acesso a alimentos, mas muitos industrializados ou sem a variedade necessária. Ela consome mesma coisa diariamente e isso faz com que ela não consiga ter acesso a todos os nutrientes, em especial os micronutrientes”, afirma Caroline.
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Fome e insegurança alimentar

Os dois conceitos são bastante próximos e por vezes acabam se misturando, já que estão relacionados a ausência de alimentos e a violação de um direito humano.

“Quem passa fome devido a questões sociais sem dúvida está em insegurança alimentar. Esse termo acaba sendo mais amplo porque abrange toda questão de direito a alimentação. Mas a fome retrata exatamente o que pessoa passa: situação que de não ter regularidade na alimentação. As vezes a gente nem tem condições de dizer o que uma pessoa com fome crônica sente porque não passamos por isso”, diz a nutricionista.

Bem tentou a escritora Maria Carolina de Jesus, uma das mais lidas do país, autora do clássico “Quarto de Despejo”, que viveu na Favela do Canindé, em São Paulo e foi catadora de materiais recicláveis. Ela disse que a “a fome é um soco no estômago”, que e “a cor da fome é amarela” e que ela “dói muito”.

E dói também pensar que a insegurança alimentar é um problema crescente no Brasil, enquanto o país é também um dos maiores produtores de alimento do mundo. A desigualdade social, no entanto, impede que eles cheguem a todos os lares brasileiros.

“Para terem acesso a alimentos, de forma diária e variada, as pessoas precisam comprar os alimentos e comprar significa ter dinheiro. Hoje, infelizmente, muitas pessoas não têm acesso permanente a dinheiro e isso foi agravado com pandemia do coronavirus”, avalia Caroline.

Para se ter uma ideia, o número de famílias brasileiras em condição de insegurança alimentar cresceu nos últimos anos, em especial com a pandemia do novo coronavírus. A insegurança alimentar grave atinge 9% da população, segundo a pesquisa “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).

Segundo o levantamento, 112 milhões de brasileiros sofrem algum grau de insegurança alimentar em 2020, o equivalente a mais da metade da população do país. A estimativa é que o Brasil tenha retrocedido 15 anos no combate a fome nos últimos cinco anos, chegando a patamares de insegurança alimentar próximos aos de 2004, anteriores a uma série de políticas sociais para aumento da renda da população e do combate efetivo a fome.

Como disse a escritora Maria Carolina de Oliveira, “quem inventou a fome são os que comem.”
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Edição: Douglas Matos
Fonte: Rádio Brasil de Fato