Combate à Fome em FOCO | Notícias e Reportagens
Fome é um problema estrutural no País .
Por: Daniela Maciel
A pressa é parceira de quem tem fome e também de quem se esforça para acabar ou, ao menos, mitigar essa mazela que alcança mais de um bilhão de pessoas sobre a Terra. No Brasil – a situação que já vinha se deteriorando após a saída do País do Mapa da Fome, em 2013 -, a pandemia tornou tudo ainda muito pior.
Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com entidades alemãs, estimou que 59,4% dos lares brasileiros sofrem com a insegurança alimentar.
Em Minas Gerais, segundo levantamento da Fundação João Pinheiro (FJP), mais de cinco milhões de mineiros já viviam na pobreza ou na extrema pobreza, mesmo antes da pandemia.
Diante desse quadro perverso, pessoas, entidades e empresas estão se mobilizando para ajudar a acabar ou, ao menos, reduzir os efeitos da crise econômica desencadeada a partir do flagelo sanitário da Covid-19. Ainda que também duramente atingidas economicamente pela crise, muitas empresas se deram conta do quanto têm responsabilidades com as comunidades nas quais estão inseridas, como de resto, com todo o planeta.
E é assim que muitas delas aproveitam as festividades de fim de ano para tentar sensibilizar os seus diversos públicos para algo muito mais poderoso e assertivo do que a caridade ou a filantropia: a solidariedade. Isso porque a fome – todos deveríamos saber – castiga todos os dias.
Paixão Alimenta – Famosa mundialmente pelos carros que fabrica e parte importante da cultura mineira desde que se instalou em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Fiat se uniu ao programa Mesa Brasil Sesc para dar forma ao seu “Paixão Alimenta”. Envolvendo mais de 500 concessionárias da marca espalhadas por todo o País, a meta é chegar a 270 toneladas de alimentos arrecadados e distribuídos até o Natal.
De acordo com a gerente de Desenvolvimento da Fiat, Priscilla Buys, o propósito da ação é utilizar a força da marca e a capilaridade da rede para alcançar e influenciar o maior número de pessoas possível.
“Desenhamos uma ação em que as pessoas pudessem doar e a gente entregar para entidades selecionadas. Não há nada ligando a ação ao consumo do que quer que seja. A pessoa pode, simplesmente, passar na porta de uma concessionária e entregar a sua doação. As lojas foram ambientadas com sinalização e o ponto de coleta instalado bem perto da entrada. A parceria com o Mesa Brasil vem também desse desejo de chegar para quem precisa e eles têm essa expertise”, explica Priscilla Buys.
O Mesa Brasil Sesc é uma rede nacional de banco de alimentos mantida pelo Sesc que atua contra a fome e o desperdício, com objetivo de contribuir para a promoção da cidadania e melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade.
A iniciativa vai até 17 de dezembro, e teve a adesão de mais de 95% da rede de concessionárias Fiat. No site www.fiat.com.br/comunita é possível encontrar os endereços das lojas cadastradas.
Solidariedade na base – Usar a força do seu exemplo também é o maior objetivo do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte. Acostumado com a gestão de projetos sociais ao longo de todo o ano, o diretor de Ação Social e Pastoral do Colégio Santo Agostinho, Clóvis Oliveira, encara o Natal como uma grande oportunidade de sensibilizar mais gente para a questão da fome e outras necessidades básicas da população mais vulnerável.
No último sábado de novembro, a escola promoveu um drive thru solidário com o objetivo de arrecadar cestas básicas, brinquedos e produtos de higiene pessoal para serem doados às famílias assistidas pelos freis agostinianos.
“Infelizmente o Brasil tem uma desigualdade muito grande e que foi acentuada nos últimos anos. Nesse momento, essa situação salta aos nossos olhos e a estatística se materializa. Temos um departamento de Evangelização Pastoral e Ações Sociais que cuida dessas campanhas que são quase permanentes. E, para que isso seja possível, a primeira coisa que lembramos é da nossa identidade cristã e agostiniana. Temos um compromisso social muito grande. Em momentos como a Páscoa, o mês agostiniano (agosto) e agora, no final do ano, existe uma mobilização maior, com mais retorno. Em todas as unidades tivemos e temos ações de solidariedade que variam de acordo com a necessidade e o espaço. Foram mais de 50 instituições atendidas dessa vez. Temos um papel muito importante enquanto instituição de ensino na educação para a solidariedade. É muito comum nessas ações pontuais praticarmos um gesto de caridade, mas isso não nos torna solidários. A solidariedade está na frequência, na compreensão sobre o outro. Precisamos ensinar os mais jovens a cuidar dos mais vulneráveis”, pontua Oliveira.
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Instituto CeasaMinas ressignifica o descarte de alimentos
Quando o assunto é alimento, é difícil pensar em um lugar mais emblemático que a Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas). E foi a partir da preocupação com o desperdício de alimentos e com o combate à fome que surgiu, há 16 anos, o Instituto CeasaMinas (Iceasaminas).
Segundo o presidente do IceasaMinas, Ricardo Carnaval, são duas as principais ações desenvolvidas. A primeira é a seleção, tratamento e distribuição de alimentos que perderam o valor comercial dentro da Ceasa Minas, mas que mantêm o valor nutricional.
A segunda é realizada junto aos produtores rurais ainda no campo, recolhendo alimentos que não serão levados para a central de abastecimento por estarem fora do padrão estético, mas que ainda podem ser consumidos. A iniciativa garante, além de um destino justo para os alimentos, a remuneração dos trabalhadores do campo.
Além da doação direta de alimentos in natura, o Instituto criou o mix de legumes desidratados. O alimento, que perdeu o valor comercial no campo, é comprado, desidratado, e ganha dois anos de vida útil, complementado com batata, macarrão e proteína de soja, sem nenhum tipo de conservante ou tempero.
“A questão da fome não é falta de alimento, é má distribuição. O Brasil é o celeiro do mundo, alimentamos 20% da população mundial, ocupando apenas 9% do território do planeta, mas vivemos a questão do desperdício. É um disparate ter tanta gente passando fome no Brasil. Somos uma instituição privada e lutamos para continuar fazendo o nosso trabalho, contando com nossos parceiros. São atendidas 27 mil pessoas por semana. para fazer uma ação social não basta querer fazer. Não basta se livrar da comida e terceirizar o desperdício”, aponta Carnaval.
Natal Mil Sorrisos – E foi, justamente, com a intenção de fazer com que a ajuda chegue efetivamente para quem precisa, que o ativista social Tiago Elvis se juntou aos esforços do Instituto Ceasaminas. Entre muitas outras ações, ele tem um carinho especial pela entrega dos produtos aos hospitais. Neste Natal ele lidera a “Campanha de Natal Mil Sorrisos”.
O grupo começou com as bandas de rock da cidade fazendo shows e cobrando como entrada um litro de leite. A primeira atividade socorreu as vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em Mariana (região Central), em 2015.
“Nosso pensamento é de que, quem tem fome, tem todo dia e, nesse Natal, não temos outro tema a não ser este. É muita gente precisando de ajuda. Antes eu mandava a mensagem e todo mundo contribuía, agora recebo poucas respostas. O número de voluntários também tem variado muito. Durante a pandemia, a ação de entrega de café da manhã em regiões vulneráveis da cidade nos fins de semana saltou de 70 para 200 kits. Sempre realizei o trabalho com hospitais. Para o Hospital Paulo de Tarso, por exemplo, doamos o mix de legumes. Quando chegamos lá, não existia alimentação para os acompanhantes. Esse era um grande problema porque as pessoas adoeciam enquanto cuidavam dos familiares. Hoje o mix de legumes é um alívio para as famílias e para o próprio hospital, que pode dedicar seus cuidados apenas aos seus pacientes”, completa Elvis.
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Fonte: Diário do Comércio
Em: https://diariodocomercio.com.br/mm2032/fome-e-um-problema-estrutural-no-pais