Portadores de doenças cardiovasculares precisam redobrar cuidados com a Covid-19

Atualizado em 22/9/2020

O total de óbitos causados pelo novo coronavírus se aproxima da marca de 1 milhão em todo o mundo. A pandemia parece longe do fim e, enquanto pesquisadores e cientistas buscam desenvolver vacinas para imunizar a humanidade contra a Covid-19, vários estudos revelam algumas características importantes sobre a doença. Uma delas é a relação direta entre quadros graves ou mortes causadas pelo vírus e a prevalência de doenças cardiovasculares, ou ao menos de fatores de risco como hipertensão e diabetes.

De acordo com uma publicação de julho deste ano da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), enquanto a taxa de letalidade geral por Covid-19 tem sido de 2,3%, em pacientes cardíacos este percentual aumenta para 10,5%. Segundo o médico cardiologista Marcelo Linhares, diretor executivo do Centro de Cardiologia Cardioprime, em Blumenau, tanto o sistema cardiovascular quanto o respiratório – por onde o coronavírus acessa o organismo humano – contam com enzimas conversoras de angiotensina (ECA), receptores que facilitam o crescimento do vírus.

— Isso tem sido muito estudado e é fato que há uma preferência do vírus em atacar o pulmão e o coração. Também tem sido notado, por outro lado, que pacientes que tomam remédio para hipertensão e de alguma maneira influenciam esses receptores positivamente têm tido menos complicações do que pacientes que não estão em tratamento contra a hipertensão — salienta Linhares.

O estudo publicado pela SBC, que analisou quase 45 mil casos confirmados de Covid-19 na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da pandemia, revelou que pacientes com fatores de risco cardiovasculares, entre eles idade avançada, sobrepeso, diabetes e hipertensão, e também portadores de doenças como cardiomiopatias, doença cerebrovascular ou doença arterial coronária, estavam muito mais suscetíveis a desenvolver um quadro grave de infecção pelo novo coronavírus, devendo ser considerados integrantes de grupo de risco.

Os dados batem com análise do American College of Cardiology, publicada também em julho, apontando que 40% dos pacientes hospitalizados devido à doença tinham doença cardiovascular ou cerebrovascular.

— Os pacientes com problemas cardiovasculares devem seguir ainda mais à risca os preceitos da Organização Mundial da Saúde: usar máscaras, praticar isolamento social, evitando aglomerações, e lavar as mãos várias vezes ao dia — observa Linhares.
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Cuidados especiais

O cardiologista da Cardioprime também alerta para o aumento de casos de infarto com complicações mais graves durante a pandemia:

— Muitos pacientes passaram a evitar o pronto-socorro com medo de contrair a Covid-19. Assim, acabam demorando demais para ser atendidos, e cada minuto é precioso numa situação de infarto — alerta Linhares.

Em caso de suspeita de infarto, ele orienta que o paciente coloque máscara e vá a uma unidade de saúde o mais rápido possível.

— A possibilidade de contrair Covid-19 em uma unidade de saúde é muito baixa, pois são locais onde todas as medidas de segurança sanitária estão sendo praticadas com muito cuidado — afirma.

Outro dado importante surgido das pesquisas sobre o novo coronavírus revela que 80% dos pacientes com quadro grave de infecção acabam tendo sequelas como injúria miocárdica (20% dos casos), arritmias (16%), miocardite (10%), insuficiência cardíaca e choque (5%).

— Há uma incidência muito parecida com vários outros tipos de vírus, em que há um percentual de pacientes que terão um acometimentos miocárdico, uma lesão direta, inflamatória, do músculo cardíaco — explica Linhares. De fato, pandemias recentes como o SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) tinham as mesmas características. Para estes pacientes, é preciso redobrar cuidados com o coração após a recuperação, evitando atividades físicas de alta e até mesmo média intensidade por um determinado período.

— É preciso acompanhar de perto a função miocárdica, com ecocardiogramas, e observar o quadro de melhora do paciente — explica Linhares.

Médico responsável: Dr. Marcelo Linhares.
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Fonte: NSC Total​