Por que pacientes com Covid precisam de oxigênio?
Atualizado em 27/1/2021
O coronavírus Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, causa uma inflamação no pulmão. Isso faz com que ele não consiga mais transferir de forma eficaz o oxigênio que a pessoa respira para dentro do sangue e das células.
“A longo prazo – é difícil quantificar porque depende de cada pessoa e cada doença –, isso evolui pro quadro de fadiga respiratória, que é quando a pessoa não tem mais força pra fazer as inspirações da forma necessária para manter uma oxigenação do sangue satisfatória. A maioria das intubações que acontecem pela Covid são devido a essa fadiga respiratória“, explica o médico.
Num ambiente normal, a porcentagem de oxigênio que existe no ar e entra no pulmão é de 21%. Isso significa dizer que, a cada 100 litros de ar que uma pessoa normal respira, 21 litros são de oxigênio e o resto, de outros gases.
Quanto mais grave for a incidência respiratória, maior a concentração de oxigênio o médico tem que administrar.
“Uma forma de melhorar o desconforto respiratório de uma pessoa é oferecer uma quantidade maior que esses 21% de oxigênio que tem no ar ambiente, facilitando então o abastecimento das hemácias no pulmão e, consequentemente, aumentando a saturação. Existem diversas formas de oferecer oxigênio, que vão desde o catéter nasal até a intubação”, completa André Saijo.
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‘Coisa de vida ou morte’
O médico Valmir Crestani Filho, também do Hospital das Clínicas da USP, descreve a falta de oxigênio em Manaus como uma “catástrofe”.
“Se você precisa ser intubado, a sua mortalidade é entre 30% e 40%. Se você apenas precisa do oxigênio, naquele catéter que fica no nariz, ou se você usa uma máscara, a sua mortalidade é entre 20% e 25%”, explica.
“Só que o oxigênio nesses pacientes não é um tratamento a mais, como é o corticoide, e como é a anticoagulação profilática. Ele é uma coisa de vida ou morte”, frisa Crestani Filho. “Nesse grupo em que morreriam 25% com oxigênio, a mortalidade pode chegar a até 100% se você ficar sem o oxigênio. Foi isso o que aconteceu em várias unidades lá em Manaus. Nos intubados, é uma catástrofe que nem se discute”, diz.
Ele chama atenção para a situação dos pacientes que não estavam intubados.
“Você tinha 30, 40, 50, 60 pacientes usando oxigênio mas que não estavam intubados, e aí foi cortando o suplemento de oxigênio e eles começaram a piorar rapidamente. Vários morreram. Muitos pacientes que não iriam morrer – porque nesse grupo a mortalidade é de 25% – morreram em decorrência da falta do oxigênio”, afirma.
“Então, não tem muito espaço para essa discussão ‘ah, esse paciente ia morrer de qualquer jeito'”, explica Crestani Filho.
“Em uma das UTIs em que eu trabalho, por exemplo, temos dez pacientes recebendo oxigênio: dois intubados e oito em máscara de inalação. Todos esses morreriam em poucas horas se o oxigênio fosse suspenso. Essa que é a tragédia. Pacientes que sobreviveriam à Covid faleceriam – não pela Covid, e sim por asfixia, por falta de oxigênio”, afirma.
“Os intubados em geral precisam entre 50-100% [de aporte de oxigênio]. Esses suportam, no máximo, algumas horas sem oxigênio”, diz Crestani Filho.
“Ainda que o oxigênio volte, esse período deixará sequelas, e pode apenas retardar a morte – enquanto o paciente poderia sobreviver caso a oferta não tivesse sido parada”, afirma.
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Por: Lara Pinheiro e Mariana Garcia
Fonte: G1/Globo