O paciente idoso durante a pandemia de Covid-19

Atualizado em 11/9/2020

1. Taxa de Mortalidade em Idosos.

1.1 Mortalidade Geral:

No Brasil, o número de casos confirmados e de óbitos cresce diariamente, a última atualização na data da elaboração dessa aula (dia 20 de abril de 2020) aponta para a realidade de que a maior parte dos casos se concentrou na região sudeste do país, sendo seguida pelas regiões. Atualmente, já são mais de 40 mil casos confirmados em solo nacional, com 2845 óbitos, permitindo-se deduzir uma taxa de mortalidade de aproximadamente 7% na população Brasileira.

1.2 Mortalidade na População de Idosos:

Segundo os dados atualizados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe em 17 de abril de 2020 às 14h: A maior incidência de óbitos tem ocorrido na faixa etária a partir dos 60 anos, sendo que de 60 a 69 anos houveram 400 casos, de 70 a 79 anos houveram 454 casos e de 80 a 89 anos houveram 353 casos. Entre os óbitos confirmados por COVID-19, 72% tinham mais de 60 anos.

Também foi possível observar os dados que apontaram para o fato de que a cardiopatia foi a principal comorbidade associada e esteve presente em 711 dos óbitos, seguida de diabetes (em 502 óbitos), pneumopatia (152), doença neurológica (134) e doença renal (122). Em todos os grupos de risco, a maioria dos indivíduos tinham 60 anos ou mais. Isto é, idosos com comorbidade prévia se encontram no grupo de maior incidência de infectados, tornando-os mais suscetíveis ao óbito.

Pode-se observar que o comportamento da doença em solo brasileiro tem seguido as mesmas tendências observadas em estudos realizados internacionalmente. A observação e interpretação dos dados levantam a necessidade de uma abordagem mais aprofundada da saúde do idoso em solo nacional. Em um país como população em processo de envelhecimento é especialmente importante que você, profissional da saúde, saiba das peculiaridades e especificidades desses pacientes.
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2. Grupos de Risco

A infecção pelo SARS-CoV-2 possui gravidade variável entre diferentes pacientes, enquanto a maioria das infecções cursa com sintomas gripais leves, alguns grupos de risco estão mais susceptíveis a desenvolver quadros mais graves da doença, que podem evoluir para falências respiratórias severas e possivelmente óbito. Como já mostrando na análise dos gráficos anteriores, a população idosa se encontra em uma situação mais propensa ao risco de desfechos fatais da doença, uma vez que a epidemiologia de certas doenças mostra que muitas das comorbidades associadas ao óbito são mais prevalentes em pacientes idosos, como já citado, cardiomiopatias, pneumopatias entre outras doenças.

Atualmente, já existe uma associação clara entre indivíduos com doenças pulmonares e os sintomas mais graves causados pela COVID19. Indivíduos asmáticos, com DPOC ou fumantes já possuem doenças de base que comprometem sua capacidade respiratória, e por relação direta possuem uma tendência de desenvolver os sintomas mais graves da doença.

Outra doença de base altamente prevalente na população, em especial na população mais idosa, é a Diabetes Mellitus. Evidências indicam a realidade de que indivíduos acometidos pela DM possuem um maior comprometimento da resposta imune e estão entre os grupos de risco mais susceptíveis a desenvolver piores desfechos da infecção pelo SARS-CoV-2.

Entre outras doenças de base comuns em casos graves, encontram-se as doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. A infecção pelo SARS-CoV-2 tem capacidade de descompensar certas doenças crônicas previamente controladas, e gerar quadros mais agudos por complicações de doenças altamente prevalentes como por exemplo a insuficiência cardíaca, assim como facilitar o desenvolvimento de outros acometimentos fatais como miocardite aguda e infarto agudo do miocárdio.
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3. Manifestações clínicas em Idosos

Devido ao processo de envelhecimento do organismo, muitas vezes as manifestações clínicas de doenças são diferentes na terceira idade comparando-as com outras faixas etárias. Atualmente, a pandemia mundial causada pela infecção pelo vírus SARS-CoV-2 infectou milhares de idosos e tem colocado em destaque esse grupo que é considerado de risco para a doença. Esse risco pode ser explicado, por exemplo, pela imunosenescência e pela grande prevalência de comorbidades associadas nessa população.

Nesse contexto, as manifestações clínicas da Covid-19 mais comuns em adultos são febre, tosse, fadiga e escarro. Nos idosos esses sintomas também podem estar presentes, porém se deve lembrar que devido ao envelhecimento fisiológico o limiar da febre nessa faixa etária é alterado, fazendo com que nem sempre a febre se manifeste na mesma intensidade que um adulto jovem. Dessa forma, muitas vezes a infecção no idoso vai ser manifestada pela redução do nível de consciência, sonolência excessiva, falha na memória, confusão mental, perda de apetite e quedas, o que exige de você um olhar muito mais atento para essas condições, assim uma atenção diferenciada do acompanhante desse idoso.

Além disso, o sintoma de dispneia tem maior prevalência em idosos, o que pode indicar um maior grau de severidade da doença, tornando necessária e importante uma maior atenção às mudanças na frequência respiratória desse grupo. É necessário que você esteja atento a essas manifestações clínicas, pois elas também possuem valor prognóstico, pois além da maior fragilidade quanto a debilitação pelos sintomas, os idosos tem uma maior probabilidade de desenvolver as complicações da covid-19.

Também é válido ressaltar que existem manifestações indiretamente relacionadas à infecção pelo SARS-CoV-2, essas manifestações podem ocorrer como resultado do contexto atual de pânico e do isolamento social, resultando em transtornos psicológicos que apresentam sintomas ligados ao sentimento de abandono, solidão e medo da morte, que podem ser identificados em pacientes com tristeza excessiva, choros frequentes, discursos suicidas, entre outros.
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4. Importância do Isolamento Social para Idosos

As consequências da pandemia provocada pelo coronavírus ressaltaram contextos desafiadores, como a vulnerabilidade de idosos frente a infecções virais e o despreparo na abordagem emergencial de pacientes de faixa etária elevada. Nesse sentido, a alta taxa de mortalidade desse grupo etário tem gerado diversas discussões acerca de cuidados e medidas a serem tomadas para evitar a contaminação dessas pessoas. Com isso, entidades e associações extremamente importantes, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Infectologia, defendem a importância do isolamento social como uma ferramenta de proteção contra acometimento de idosos e de outros grupos de risco.

Para entender a relevância dessa medida, é importante destacar o modo de transmissão do SARS-CoV-2, que consiste, principalmente, no contato de gotículas de saliva contaminadas com mucosas do olho, da boca e do nariz e no contato com superfícies contendo o vírus. Portanto, uma pessoa infectada pode, rapidamente, contaminar o ambiente em que se encontra, pondo em risco os indivíduos que adentrem naquele local. Tal fato torna-se ainda mais preocupante quando verificamos o intervalo de tempo que o vírus permanece em algumas superfícies, que pode variar de horas a dias. Além disso, muitos indivíduos infectados são assintomáticos, dificultando o controle das transmissões.

Desse modo, a implementação do isolamento social evita aglomerações, as quais facilitam a disseminação do SARS-CoV-2, e diminui a circulação de pessoas contaminadas em espaços públicos. Consequentemente, a probabilidade de indivíduos pertencentes a grupos de risco, como é o caso de idosos, entrar em contato com o vírus diminuiria de forma considerável, fato que reduziria a sobrecarga de estabelecimentos de saúde e a taxa de mortalidade de infectados.

Sob essa perspectiva, o estabelecimento e a manutenção do isolamento social por um tempo adequado é uma estratégia válida para a atual situação, fato apontado ainda por estudos como um artigo publicado recentemente no jornal Lancet Public Health, a prorrogação do fim do isolamento pode adiar o ressurgimento de picos. Tal medida proporciona aos serviços de saúde mais tempo para lidar com a superlotação decorrente da pandemia.

Vale ressaltar que medidas de isolamento focadas apenas em grupo de risco aumentaria o risco de idosos contraírem a doença, pois manter apenas a reclusão de grupos vulneráveis enquanto que outras pessoas circulam em espaços públicos, mesmo mantendo o distanciamento social, não evitaria o potencial contato de idosos com o vírus. Além disso, uma pesquisa recente do Imperial College London demonstrou que a implementação de medidas de mitigação (ou seja, medidas mais brandas de isolamento) são menos eficientes no combate à transmissão da Covid-19, quando comparadas às formas mais duras de isolamento.

Por fim, é importante lembrar que o isolamento social pode provocar diversas consequências negativas para a saúde, deixando os indivíduos mais susceptíveis a passar por momentos de forte solidão, fator que tem sido associado ao aumento do risco de problemas cardiovasculares, cognitivos, psicológicos e imunológicos. Portanto, é crucial adotar medidas que minimizem a percepção de isolamento e solidão desses indivíduos.

Continuando nossa aula sobre a doença causada pelo novo Coronavírus e a saúde do idoso, iremos ressaltar outros aspectos importantes que são comuns à maioria dos pacientes idosos. É extremamente importante que você esteja preparado para lidar com as particularidades desses, seja você médico, estudante de medicina ou outro profissional da saúde, é certeza de que você em algum momento terá de que lidar com esses elementos que serão abordados no contexto atual de pandemia. A seguir iremos abordar a importância de peças chave da manutenção do idoso em tempos de pandemia, como a importância do isolamento social dos idosos, e seus impactos em nível psicológico e social, a importância da manutenção de campanhas de vacinação e, por fim, noções de segurança e higiene em instituições de longa permanência de idosos.
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5. Complicações em Idosos

As complicações da COVID-19 podem ocorrer em quaisquer infectados pelo vírus. Porém, o paciente idoso como integrante do chamado grupo de risco, seja por ter mais condições de saúde subjacentes seja pela imunossenescência natural do envelhecimento, apresenta maior risco de doença grave. Assim, indivíduos mais velhos portadores do vírus inspiram maior vigilância e cuidado no tratamento e acompanhamento da infecção, visando sempre diminuir as complicações e a mortalidade.

Diante disso, iremos ressaltar as complicações possíveis mais importantes

5.1 Pneumonia refratária:

Após 10 dias ou mais de tratamento, alguns pacientes apresentaram exacerbação de sintomas clínicos ou achados radiológicos, não apresentam melhora óbvia dos sintomas respiratórios (como tosse, desconforto torácico e dispneia) depois de tratamento, não mantém temperatura corporal normal por três dias ou mais sem uso de glicocorticóides ou antipiréticos. Esses casos são reconhecidos como pneumonia por COVID-19 refratária e acarretam em complicações do quadro do paciente. Outros possíveis acometimentos pulmonares são o edema pulmonar e derrame pleural.

5.2 Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA):

A resposta imune ao dano tecidual causado pelo vírus pode levar à SDRA, na qual a insuficiência respiratória é caracterizada pelo rápido início de inflamação generalizada nos pulmões. Ocorre devido a um processo inflamatório pulmonar que induz dano alveolar difuso direto. Como consequência, temos hipoxemia profunda.

Quando termos SDRA? Saturação de O2<95% em ar ambiente; cianose; sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência respiratória (>30 irpm em adultos); diminuição da amplitude dos pulsos periféricos; insuficiência aguda respiratória; alteração do nível de consciência; febre persistente, aumento por mais de três dias ou recorrência após 48 horas.

5.3 Complicações Cardíacas:

Insuficiência cardíaca nova ou agravada, arritmia nova ou agravada ou infarto do miocárdio também integram o grupo de possíveis complicações.

5.4 Coagulação Intravascular Disseminada:

Coagulação intravascular disseminada: muitos pacientes internados com pneumonia  por COVID-19 apresentaram atividade de coagulação aumentada, marcada por concentrações aumentadas de D-dímeros. Os mecanismos contribuintes incluem respostas sistêmicas a citocinas pró-inflamatórias mediadoras da aterosclerose, contribuindo diretamente para a ruptura da placa por inflamação local, indução de fatores pró-coagulantes e alterações hemodinâmicas, que predispõem à isquemia e trombose.
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6. Gerenciamento da Solidão e Estresse Provocado pelo Isolamento Social

Mesmo compreendendo a importância do isolamento social para a manutenção da saúde de grupos de risco, sabe-se que uma grande parte dos idosos já vivem em contextos os quais lhe impedem de ter uma sociabilidade adequada para manutenção da sua saúde mental, dessa forma, a situação pandêmica pode agravar problemas gerados pela solidão e estresse nessa parcela da sociedade.

Durante esse isolamento, o afastamento de familiares e amigos, assim como a impossibilidade de frequentar locais de convivência como praças e bares, podem levar o idoso a se sentir em situação de abandono, mesmo que esse entenda a urgência dessa medida de saúde. Além disso, a circulação de ideias que relativizam a vida, com a difusão de frases como “Não é uma pandemia tão séria, pois apenas idosos correm risco de morrer” colocam indiretamente a vida do idoso como menos importante. A difusão desse pensamento pode levar esses idosos a se sentirem inúteis e importantes.

Tendo isso em vista, é extremamente importante que você saiba lidar corretamente com pacientes idosos em situação de isolamento, de maneira a respeitar sua condição de saúde e funcionalidade. A seguir estão algumas medidas que podem ser tomadas por profissionais de saúde ou até mesmo acompanhantes e cuidadores de idosos para auxiliar no apoio à saúde mental dessas pessoas.

6.1 Espiritualidade e Crenças.

Como grande parte dos idosos possuem espiritualidade acentuada (de acordo com o senso do IBGE, apenas 3,6% não tinham religião definida), é fato que o afastamento deles de cultos religiosos pode afetar seu bem-estar. Tendo isso em vista, muitos canais de televisão estão transmitindo cultos ao vivo para manutenção da espiritualidade das pessoas, dessa forma, pode-se apresentar aos idosos essas ferramentas, já que são de amplo acesso. Logo é de suma importância que os idosos tirem parte do seu dia para se sentirem conectados com sua crença, pois isso permite, inclusive, que eles lidem melhor com situações de adversidade, como a pandemia em questão.

6.2 Atividades Físicas.

Outro fator importante para manutenção do bem-estar é a realização de atividades físicas, evitando ficar somente deitados ou sentados, sempre levando em consideração a sua integridade física, respeitando limitações. O idoso pode aproveitar o próprio espaço domiciliar para realização de atividades físicas. Exercícios práticos, como alongamentos, podem ser feitos facilmente em qualquer ambiente, além desses, para pessoas que vivem em ambientes maiores, caminhadas dentro de casa são ótimas opções para se manterem ativos.

6.3 Leitura e outras atividades de lazer

Ler livros, cozinhar, costurar, pintar entre outros hobbies são indicados também, o importante é manter-se ativo e com a mente sempre ocupada.

6.4 Acesso à Internet

Para idosos que tem acesso à internet, o uso de redes sociais é um meio de amenizar a sensação de solidão, buscando manter contato com família e amigos por meio de mensagens, ligações e vídeo-chamadas. Também, acessando conteúdos de mídia como vídeos divertidos, séries e filmes. Todas essas são ferramentas que amenizam a solidão e o estresse causados pelo isolamento social.

6.5 Proteção contra excesso de Informação

Outro elemento importante para a manutenção da saúde mental de idosos, ou até mesmo da população em geral nesse contexto, é se proteger contra o excesso de informações em tempos de pandemia, muitas vezes a superexposição a noticiários e jornais durante grande parte do dia pode agravar o sentimento de angústia e impotência diante da situação em que vivemos, por isso é importante “se desligar” um pouco para manter a própria saúde mental.

6.6 Educação e suporte dos mais jovens

Ademais, jovens que não se encontram em populações de risco tem papel fundamental nesse quadro, podendo oferecer ajuda aos idosos em atividades cotidianas como fazer compras ou ensinando-os a usar melhor as ferramentas digitais, por exemplo.

Não se pode esquecer também dos idosos que estão em isolamento nos hospitais por conta do diagnóstico de Covid-19. Como esses idosos não podem receber visitas, encontram-se em situação ainda mais limitada quanto a meios de amenizar seu estresse e solidão. Uma das formas de fazer eles se sentirem menos solitários apesar da distância é o envio de recados escritos ou até mesmo fotografias impressas por entes queridos, por exemplo.

É extremamente importante que os idosos compreendam a importância das medidas de isolamento, e ainda mais, é importante que eles entendam que não são um “peso” para a vida das pessoas, a ajuda vem por conta do reconhecimento do quanto eles são importantes para a nossa sociedade e, também, para auxiliar a manutenção do isolamento social efetivo.
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7. Importância da Vacinação em Tempos de Pandemia

A importância da vacinação a nível mundial e a nível de diversos contextos históricos, como forma de prevenção e de controle de muitas doenças, como febre amarela, rubéola, sarampo, entre outras, é grandiosa, pois o controle e a erradicação de doenças geram impacto positivo em sistemas de saúde de muitos países. Devido a essa grande importância, campanhas de imunização para diversas faixas etárias são criadas visando à maior adesão possível das vacinas existente e disponíveis, pois a alta cobertura vacinal traz benefícios, como a melhora e o aumento da expectativa de vida. Em um contexto atual de pandemia da COVID-19, é especialmente importante ressaltar a importância da vacinação de doenças como a gripe, que é de extrema importância para a manutenção de boas condições de imunidade da população.

Sabe-se que a vacinação é importante para pessoas de qualquer faixa etária, porém existem grupos populacionais que devem ser alvos prioritários de muitas vacinas, devido à maior probabilidade e à maior susceptibilidade de risco de contaminação por muitos agentes infecciosos. Nesse contexto de imunizações, os idosos devem receber uma atenção especial quando se fala de medidas de saúde pública, pois devido as alterações imunológicas relacionadas ao envelhecimento, o que aumenta o risco de comorbidades e de infecções, esses idosos constituem um grupo de risco em tempos de pandemia.

Portanto, o controle ideal da vacinação dos idosos é capaz de reduzir o risco de graves quadros infecciosos, de prevenir o descontrole e agravamento de doenças crônicas e, consequentemente, de melhorar a vida dessas pessoas. As vacinas são especialmente importantes para prevenir o surto de certas doenças que estavam em condição de controle ou até mesmo erradicadas, evitando severos impactos no sistema de saúde brasileiro.

Em tempos de pandemia, como a pandemia de COVID-19, é importante voltar a atenção para os riscos de descontinuidade da vacinação rotineira das pessoas, devido a importante necessidade de isolamento social, com o intuito de evitar contaminações pelo SARS-CoV-2. Além disso, outros fatores contribuintes para com a descontinuidade de vacinação das pessoas são os tabus alimentados por parte da população, como a ideia de que o risco da não vacinação é baixo, quando comparado ao período preocupante de COVID-19, ou até mesmo ideias erradas de que as vacinas tornam as pessoas mais “propensas a adoecerem”.

Essa descontinuação de vacinações pode favorecer o aumento de prevalência de doenças previamente controladas, e agravar ainda mais a situação de serviços de saúde que já enfrentam sérios problemas com a superlotação de casos de COVID-19. Justamente por isso entidades importantes como a OMS ressaltam a importância da elaboração de estratégias de vacinação mesmo em contexto de isolamento, desde que realizadas de maneira compatível às normas de segurança e isolamento locais.

Justamente por esses fatores, a situação de pandemia e a falta de cobertura vacinal representam riscos conjuntos à saúde pública e isso ressalta a necessidade das autoridades e dos profissionais de saúde estarem atentos às estratégias que possam garantir a vacinação de forma segura da população, levando em consideração os dados epidemiológicos e os riscos de cada região e populações, bem como a estrutura do sistema de saúde de cada país.

É especialmente importante ressaltar que no contexto atual de pandemia de COVID-19, campanhas de vacinação em massa devem ser evitadas, em respeito às normas de segurança que preconizam a não formação de aglomerações e o importante e distanciamento físico entre as pessoas.

Por esse motivo, os locais utilizados e as estratégias abordadas para a realização das vacinações deve estar de acordo com a capacidade dos sistemas de saúde do local e com os dados epidemiológicos. É essencial uma completa análise da atual conjuntura, medindo riscos e benefícios para que as tomadas de decisões sejam precisas e benéficas para profissionais de saúde e para toda a comunidade.
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8. Importância da Prevenção em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI)

Dentro do contexto de grande disseminação da doença causada pelo SARS-CoV-2, parte da comunidade médica voltou sua atenção para um grupo de pacientes de risco em condições bem específicas. Tratam-se dos idosos institucionalizados, ou seja, aqueles que habitam instituições de longa permanência do idoso (ILPI). Essas instituições existem com o intuito de abrigar idosos que, por falta de suporte familiar ou comprometimento funcional, são incapazes de cuidar de si próprios. Grande parte desses idosos geralmente estão em condições de fragilidade, ou com idade muito avançada, acamados, com múltiplas comorbidades e doenças crônicas altamente incapacitantes como demências ou distúrbios de marcha, o que os tornam incapazes de exercer suas atividades de vida diária, sendo dependentes das ações dos cuidadores.

Justamente por isso torna-se necessário ressaltar a importância do risco que essa população específica está submetida, pois suas condições de vida, moradia e convívio os tornam extremamente vulneráveis à infecção pelo SARS-CoV-2, da mesma maneira estão muito mais propensos a desenvolverem as formas mais graves dessa doença, com maior possibilidade de desfechos fatais. A propagação do vírus nesses ambientes é excepcionalmente preocupante pois esses idosos muitas vezes convivem em contato próximo com os outros habitantes das ILPI, como outros idosos, seus cuidadores, profissionais da saúde e funcionários em geral. Dessa forma, esse ambiente favorável a infecção torna necessária a existência de normas de biossegurança específicas que devem ser conhecidas por você, médico, enfermeiro, cuidador, estudante da área da saúde ou outro profissional que frequente essas instituições.

Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) emitiu uma nota com recomendações de segurança e higiene para Instituições de Longa Permanência do Idoso, que serão abordadas brevemente a seguir.

Antes de mais nada, é preciso ressaltar a importância de todos aqueles que trabalham nas ILPI devem ser assistidos de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados e materiais de limpeza que permitam uma boa manutenção das condições sanitárias das instituições. É excepcionalmente importante suspender todo tipo de “visita” que possa ocorrer durante o período de isolamento, e fazer um manejo inteligente do fluxo de pessoas, para garantir o mínimo de contato possível, assim como garantir um local de isolamento para aqueles idosos que apresentarem sintomas gripais.

Pacientes que estiverem com sintomas respiratórios devem permanecer isolados em condições ideais de ventilação e deve ser reduzido ao mínimo seu trânsito por outras áreas da instituição, com intuito de diminuir seu contato com outros idosos e profissionais sujeitos ao risco de infecção. Quando o contato for inevitável deve-se observar as recomendações de distância mínima de 2 metros entre as pessoas presentes no ambiente. Recomenda-se que o idoso em condição de isolamento respiratório deva permanecer nesse estado por pelo menos 14 dias, e não há necessidade de encaminhar esse idoso a outro serviço de saúde caso não haja agravamento da sua condição de saúde.

Outro ponto extremamente importante está na disponibilidade de locais onde qualquer pessoa que chegar à instituição possa realizar a higiene adequada das mãos, assim como pontos com dispensadores de solução de Álcool a 70% em locais estratégicos, a higiene das mãos deve ser realizada antes e depois do contato com qualquer paciente, mesmo que luvas tenham sido usadas, elas devem ser descartadas.

O uso de EPI deve ser feito de maneira adequada, com máscaras cirúrgicas ou lenços, reservando as máscaras N95 para profissionais da saúde em contato direto com os idosos. Deve-se tomar cuidado especial com pessoas com cabelos compridos, que devem prender os cabelos ao entrar na instituição e uso de adereços como anéis que não é recomendado. Profissionais da saúde que vão entrar em contato com idosos com sintomas respiratórios devem estar devidamente equipados com equipamentos de proteção como máscara, gorro, óculos luvas e avental descartável. Qualquer caso suspeito de infecção pelo SARS-CoV-2 deve ser obrigatoriamente notificado.

É sempre importante ressaltar a importância do isolamento desses pacientes para que se possa tentar manter sua saúde em tempos difíceis, e somente respeitando-se as normas de segurança e higiene é possível reduzir os impactos dessa doença em uma população de risco vulnerável.

Por fim, ressaltamos a importância de se discutir a saúde do idoso em geral, com todos os pontos abordados, pois trata-se de uma parcela importante da população que deve ter sua saúde assistida de todos os meios possíveis para que sua vida possa ser preservada com qualidade, funcionalidade e saúde.
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Fonte: Sanar Medicina