QUAL É A SUA MEMÓRIA?

COEP Nacional
-
Aconteceu em 01/02/1994

Canal Saúde

Outra iniciativa articulada pelo COEP e que também envolveu a Fiocruz foi a criação do Canal Saúde, um programa educativo em saúde, veiculado diariamente, de graça, pelo chamado Canal Executivo da Embratel, então entidade pública. Segundo Paulo Buss, o projeto fez tanto sucesso que, atualmente, o Canal Saúde é parte fundamental da estrutura da Fiocruz e do Sistema Único de Saúde do país.

Oficialmente o Canal Saúde começou suas atividades em dezembro de 1994, com cerca de uma hora de programação semanal, reproduzindo vídeos que pertenciam ao acervo do núcleo de vídeo do CICT/Fiocruz através de um sinal concedido pela Embratel. No entanto, a ideia original do canal foi influenciada muitos anos antes pela movimentação social em torno da criação do SUS (Sistema Único de Saúde), que, desde 1986, através das Conferências Nacionais de Saúde, discutia um novo modelo de saúde pública, mais universal e integral. Tendo como paradigma não mais a ideia de saúde como ausência de doenças, mas a concepção de saúde como um bem estar integral.

O grande impulso para a criação do canal ocorreu de fato em 1993, com a articulação do COEP, que contava com a presença de 33 representantes e presidentes de empresas estatais, entre eles o próprio Paulo Buss, representando a Fiocruz, e o então diretor da Embratel, Plínio Aguiar. Em reunião do COEP, Paulo apresentou suas ideias e pouco tempo depois foi fechado um acordo entre a Fiocruz e a Embratel. Arlindo lembra bem dos fatos: “A Embratel não podia fazer um convênio e ceder o espaço dela na televisão, por alguma questão jurídica. Então eu lembro que numa das reuniões foi colocado pelo Plínio isso… que teríamos que fazer um contrato… Aí se quebrou a cabeça e chegamos à seguinte conclusão, no contrato a Embratel nos dava 95% de desconto e os outros 5% era uma permuta para a Embratel colocar o selo dela antes da entrada do Canal Saúde. Ou seja, não tinha dinheiro nessa história, 100% era de graça.”

Feito o acordo e com o espaço devidamente formalizado, o Canal Saúde poderia estrear, mas, naquele momento, não havia profissionais de comunicação envolvidos no projeto e quase nenhum material para apresentar. A solução surgiu de forma literalmente caseira, as primeiras gravações foram feitas na garagem do cineasta Zelito Vianna de forma bem amadora.

Aos poucos as produções do Canal Saúde foram se profissionalizando com a entrada de jornalistas, profissionais da comunicação e artistas. Em 1995 foi feita uma parceria com o a TVE (TV Educativa) para a primeira produção totalmente do Canal, um programa de debates com aproximadamente uma hora de duração e que foi incorporado à grade de programação da TVE. Desde 1997 a programação pode ser vista pela internet e em canais de acesso público via parabólica, como a Amazon Sat e a NBR. Mais recentemente, passou a ser incorporada pela OI TV. Vale ressaltar aqui que o Canal não é considerado uma TV aberta, não opera como uma concessão pública.

É evidente a influência dos movimentos sociais na criação do Canal Saúde, principalmente através das Conferências Nacionais de Saúde e a pressão do momento político pelo qual o país estava passando na época: a Constituição de 1988, a implementação do SUS (1990) e a emergente ideia do controle social. Assim os objetivos do Canal se tornam naquele momento se tornaram bem claros: levar o conceito ampliado de saúde ao conhecimento da população, democratizar o debate público sobre a saúde e garantir o controle social na saúde.