Imunidade alta protege contra o coronavírus? Mitos e verdades

Atualizado em 9/10/2020

Imunidade alta protege contra o coronavírus?

Não. O imunologista Antonio Condino Neto, membro do departamento científico de imunodeficiência da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) explica que o conceito de imunidade alta não está correto. Segundo ele, existem pessoas imunocompetentes ou imunodeficientes. “Não vai ser uma vitamina, alimento ou corrida na praia que vai te proteger contra o coronavírus.” As pessoas imunodeficientes são aquelas que possuem uma doença genética que causa essa imunodeficiência ou outros fatores que possam afetar o sistema imune como câncer, pessoas que fizeram transplantes ou que tomam remédios imunossupressores. O infectologista Helio Bacha, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), acrescenta que obesidade e diabetes também podem diminuir a imunidade e por isso são fatores de risco para a covid-19.
.

Quem já teve covid-19 está protegido de novas infecções?

Não. Casos de reinfecção já foram comprovados em Hong Kong, Bélgica e Holanda. Bacha afirma que inicialmente se achava que a segunda infecção seria mais leve, mas que há registros de casos graves na segunda infecção. Condino explica que os anticorpos produzidos pelo corpo são temporários, durando de 3 a 6 meses. Para confirmar um caso de reinfecção, é preciso demonstrar que os códigos do RNA viral no primeiro e no segundo contágio registrado são diferentes um do outro. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP investiga 30 casos com suspeita de reinfecção, sendo 18 em São Paulo e 12 em Ribeirão Preto, no interior de SP.
.

Quem teve dengue ou tomou a vacina BCG está protegido contra a covid-19?

Ainda não se sabe. Apesar de existirem alguns estudos que indicam a possibilidade de imunidade cruzada com dengue ou provocada pela vacina de BCG, essas informações ainda não foram comprovadas cientificamente. Um estudo liderado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis comparou a distribuição geográfica dos casos de covid-19 com a disseminação da dengue em 2019 e 2020 no Brasil e concluiu que locais com taxas mais baixas de infecção por coronavírus e crescimento mais lento de casos foram os mesmos que sofreram intensos surtos de dengue. Já em relação à vacina BCG, pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) estão estudando a possibilidade de usar essa vacina, que serve para combater a tuberculose, contra a covid-19, o que daria proteção contra as duas doenças ao mesmo tempo. Isso seria possível graças a modificações genéticas feitas na bactéria utilizada para fabricar a vacina.
.

Em casos graves, é o próprio sistema imunológico que ataca o corpo?

Sim, em alguns casos. O infectologista explica que existem vários quadros possíveis de agravamento, por tromboembolismo, por infecção bacteriana oportunista ou por uma confusão do sistema imune. No último caso, o sistema produz uma resposta imunológica descontrolada que provoca uma tempestade inflamatória que lesa as células do corpo. Segundo o imunologista, foram identificados alguns genes específicos associados a formas graves de covid-19. “Um estudo mostrou o mecanismo, algumas pessoas produzem autoanticorpos, que acabam neutralizando os interferons e a pessoa não consegue combater o vírus”.
.

Crianças têm imunidade mais forte contra o coronavírus?

Em partes. Condino explica que o sistema imunológico das crianças é diferente dos adultos. A imunidade adaptativa delas, aquela que produz anticorpos específicos para cada vírus, possui uma performance menor que a dos adultos. Por outro lado, a imunidade inata é mais ativa, pois elas estão em um período que promove o treinamento do sistema imunológico, com mais contato com outras crianças, resfriados simples mais frequentes e maior número de aplicação de vacinas, isso seria uma vantagem frente ao novo coronavírus. Porém, a explicação do porquê as crianças não costumam apresentar casos graves da covid-19 ainda está sendo estudada.
.

Fonte: R7