Europa enfrenta Covid-19 na volta às aulas com novo manual para ir à escola

Atualizado em 8/9/2020

Na noite anterior ao retorno à escola, a mochila estava pronta: material escolar, caderno e espaço para o lanche. Mas, desta vez, novos itens teriam de entrar: máscara e gel, além de muitas inseguranças e dúvidas.

Depois de um verão preocupante devido às infecções pela covid-19, a Europa retornou às aulas nesta semana. Milhões de crianças na Suíça, Espanha, França, Bélgica e vários outros países finalmente retomaram o caminho das salas de aula.

Desde março, o ensino tem sido duramente afetado. Em alguns países europeus, como na Suíça, as escolas conseguiram reabrir em maio. Mas, ao final de junho, as longas férias de verão chegaram.

A esperança era de que, em setembro, a Europa teria um controle sobre o vírus. Uma segunda onda, se ocorresse, chegaria apenas no final do ano.

Mas não foi essa a realidade. Pelo continente, os números voltaram a subir de maneira importante, colocando sérias dúvidas sobre a reabertura das escolas e levando professores a protestar em certos locais, como na Espanha.

Ainda assim, a opção dos governos foi a de manter os planos de reabertura, na esperança de que a preparação realizada por semanas fosse suficiente. Em cada local, porém, as regras são diferentes e respeitam um princípio fundamental: as taxas de circulação do vírus naquela comunidade.
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Um novo guia para frequentar as escolas

Em Genebra, escolas enviaram guias aos pais para preparar a volta às aulas. Local de deixar as crianças, local para buscá-las, o que levar na mochila, como se comportar e até o que comer. Tudo com detalhes de relógio suíço.

Os professores explicaram que o critério adotado seria rígido: assim que um dos sintomas da doença fosse identificados numa criança, ela seria retirada da sala, isolada e testes teriam de ser realizados.

No guia enviado aos país, porém, um alerta era feito: nenhuma criança estaria autorizada a ficar em casa apenas por uma questão de insegurança por parte da família sobre a conveniência de retornar à escola.

No caso da Suíça, as novas regras tocam praticamente todos os aspectos da vida escolar. Fica estabelecido, por exemplo, que crianças e professores precisam manter uma distância de 1,5 metro entre eles.

“Quando a distância de 1,5 m não pode ser garantida, as máscaras faciais devem ser usadas por adultos e estudantes na 11ª série e acima. Isto significa, por exemplo, que um professor da escola primária que chega a 1,5 metro de um aluno deve usar uma máscara”, indica o guia.
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Futebol liberado

Para os alunos mais jovens, as máscaras não são recomendadas na escola. Mas as crianças são “bem-vindas a usá-las se assim o desejarem, e se forem suficientemente autônomos para poder usá-las e descartá-las com segurança”.

Existem regras também para chegar à escola. “As máscaras devem ser usadas no transporte por todas as crianças com mais de 12 anos na Suíça. Isso inclui os ônibus escolares”, disse.

Ninguém, nem mesmo os pais, estão autorizados a entrar nas escolas. Por meses, concertos ou peças de teatro da escola, conferências de pais e professores serão realizados virtualmente ou serão adiados ou cancelados.

Dias depois do reinício das aulas, o que se constata é que, para alunos, pais e professores, o momento é de reaprender como frequentar a escola.

Dentro das classes, os alunos são solicitados a lavar as mãos antes e depois do intervalo. Eles são encorajados ainda a evitar qualquer contato físico desnecessário. Isso inclui abraços, beijos e brincadeiras de luta livre. O futebol, para o alívio de muitas crianças, está autorizado nos pátios.
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Sem bolo de aniversário

Ainda que tenham disponibilizado o gel, as escolas passaram a incentivar os alunos a trazer suas próprias garrafas portáteis. Aspiradores e ventiladores deixaram de ser usados dentro das escolas, justamente para evitar o risco de propagação de gotículas de vírus por via aérea.

As festas de aniversário também sofreram modificações. “Pedimos aos pais que não enviem nenhuma comida para a escola para que seus filhos possam compartilhar com outros, por exemplo, bolos de aniversário ou lanches de classe, até nova ordem”, estipula.

“São tantas regras que, a cada dia, parece que eu preciso consultar o guia para saber o que dizer às crianças”, afirmou Nicole Biser, mãe de três alunos de uma escola pública região central de Genebra.

Em sua geladeira, o organograma de aulas agora divide o lugar com uma lista do que se pode e não se pode fazer na escola.
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Um caso na escola, 60 crianças de volta para casa

Se os planos eram detalhados, os primeiros dias de aulas revelaram que o desafio seria a implementação. Numa classe com alunos de sete e seis anos, um dos meninos estava se recuperando de uma bronquite que havia tido nos dias anteriores à retomada das aulas. Para que ele não fosse identificado como caso suspeito e isolado, a escola exigiu um atestado médico.

Um dia depois, outra classe foi marcada por uma das crianças com tosse e nariz escorrendo. O serviço de ambulatório da escola foi acionado e os pais avisados para que os testes fossem realizados.

Em outra escola de Genebra, três classes foram fechadas poucos dias depois de terem sido retomadas. O motivo: um garoto testou positivo. O problema: ele tinha dois outros irmãos na mesma escola. No total, mais de 60 crianças voltaram para casa por conta daquele único caso.
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Aluno não entregou lição e alegou “papel contaminado”

Num encontro entre diretores de escolas, os desafios ficavam ainda mais evidentes.

Um dos debates era como desinfetar os livros da biblioteca que eram levados para casa.

Na mesma reunião, uma outra queixa: professores de alemão se queixavam que, com as máscaras nos alunos mais velhos, não tinham como corrigir e ensinar a pronúncia.

Num momento mais leve do debate, um professor relatou como um de seus alunos já usou a pandemia para justificar que tinha esquecido a lição em casa. “Ele justificou que pensava que o papel poderia estar contaminado”, relatou aos demais.

O momento também tem sido de intensa troca de impressões por grupos de WhatsApp das classes. “Minha filha diz que não da para saber se a professora está feliz ou brava com a máscara”, escreveu uma mãe.

Em outra mensagem, uma pergunta em tom de ameaça surgiu: “Apareceu uma vasilha de lanche na mochila do meu filho que não é nossa. É azul. Vou jogar imediatamente no lixo para evitar possível contaminação”.
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Fonte: Coluna do Jamil Chade/UOL