Trabalhador informal testa tecnologia para salvar seu negócio e sobreviver

Atualizado em 23/7/2020

Por Tamires Rodrigues

Nos últimos três meses, comerciantes e moradores que têm seus próprios negócios nas periferias se viram sem renda, pois sua maior fonte é a venda direta ao consumidor de forma presencial. Diante das circunstâncias causadas pela pandemia de coronavírus, eles tiveram que se reinventar para sobreviver e sustentar a família.

Jaime de Jesus, 41, mora no distrito do Campo Limpo, no Jardim Piracuama, em São Paulo. Ele é vendedor ambulante há 18 anos. “Eu comecei vendendo bebidas nos estádios, capa de chuva, aí fui trabalhando, trabalhando, não tive mais oportunidade de voltar para o mercado de trabalho, aí continuei na rua”, lembra.

Devido à falta de oportunidades no mercado de trabalho formal, ele foi se adaptando ao serviço de vendedor ambulante para garantir seu salário no final do mês. “Não tem uma coisa certa assim para vender, sabe. Um dia eu vendo guarda-chuva, no outro eu vendo alguma coisa diferente”.

Jesus se adaptou às circunstâncias e aproveita o trabalho para ter prazer ao conhecer histórias. “Todo dia é uma história diferente, que marca a gente”, diz.

Durante a pandemia, Jesus está conseguindo se sustentar, mas seu rendimento mensal caiu. Ele ainda ressalta que as ruas hoje não estão tão reconfortantes como antes. “Dá para tirar um dinheirinho para sustentar minha família. Eu não gostaria de estar na rua, né, trabalhando, se expondo, arriscando pegar um vírus e ficar doente, mas eu preciso estar na rua trabalhando para poder sobreviver, né”, afirma.

Jesus tenta reduzir seu tempo de exposição na rua, mas esbarra nas dificuldades para utilizar ferramentas tecnológicas no dia a dia. “Às vezes eu exponho meus produtos pelo WhatsApp, mas tem hora que não tem jeito, é preciso sair de casa”, diz o vendedor ambulante. Para ele, o baixo alcance das vendas pelo WhatsApp faz da rua a melhor opção para conseguir aumentar sua renda.

O ambulante acredita que a inexperiência com ferramentas tecnológicas amplia as dificuldades com o negócio nesse momento. “Eu sou um pouco leigo em relação à tecnologia, eu não sei mexer muito. Dependo da minha filha, dependo da minha esposa, elas sempre me ajudam, mas eu tenho um pouco de dificuldade”, diz.

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“Fiquei desesperada”

No Capão Redondo, distrito vizinho do Campo Limpo, em São Paulo, a moradora Claudiene Santos, mais conhecida em seu bairro por Cacau, 26, é manicure há oito anos. Cacau costuma atender em sua casa. Segundo ela, a flexibilidade de horários para fazer suas demais tarefas foi um dos principais motivos para trabalhar por conta própria. “Trabalho em casa por conta da minha filha, assim não preciso pagar ninguém para cuidar dela. Posso fazer meus horários, pois preciso conciliar com os horários da escola e alguma consulta médica que eu precisar ir”.

Assim como o vendedor ambulante, a manicure começou a trabalhar por conta própria em casa por falta de emprego formal. Logo nas primeiras semanas do isolamento social, Cacau se viu preocupada, pois todas suas clientes deixaram de ir até ela para fazer as unhas. “As clientes sumiram no começo da quarentena, tipo sumiram mesmo, fiquei praticamente um mês sem trabalhar”.

A partir desse momento, a sensação de desespero tomou conta de Cacau. “Fiquei desesperada, pois meu marido é Uber e estava muito difícil para ele também, quase não tinha chamadas. Também não conseguimos o auxílio emergencial e não tínhamos nenhuma garantia de renda”, afirma.

A manicure buscou usar plataformas como Facebook e Instagram para tentar conquistar novos clientes. “Eu comecei a usar as ferramentas do Facebook e Instagram agora porque antes eu tinha medo, não sabia mexer. Eu só posto as coisas, faço o básico, eu não sei fazer o que o restante das pessoas fazem no Instagram”, diz.

Mesmo com suas dificuldades, ela continua persistindo em aprender um pouco mais das tecnologias que têm acesso em busca de impactar e valorizar o seu negócio. Porém, ela ressalta que sua maior metodologia de marketing continua sendo o uso das indicações de clientes.

“A maioria das minhas clientes são todas antigas, todas elas indicam para alguém. Então mesmo que venha do Facebook, foi porque alguém indicou. Elas procuram no Facebook ou no Instagram e me encontram”, afirma.

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“Não basta postar uma foto”

“Não é tão fácil vender produtos pela internet, não adianta você postar uma foto e falar assim: ‘eu tô vendendo’. Tem que ter recurso, tem que ter muita coisa que eu não tive como opção, entendeu?”, conta Valdirene Rodrigues, 47, moradora da Vila Industrial, periferia da zona leste de São Paulo, que trabalha por conta própria em sua casa como modelista.

Durante a pandemia, Rodrigues não conseguiu realizar atendimentos presenciais e também não conseguiu usar a tecnologia a seu favor. “Eu não tinha como receber as pessoas em casa e nem tinha como ir até elas, então a situação ficou bem complicada, né”.

Nessa situação, Rodrigues observou uma forte demanda em seu bairro por máscaras e começou a produzir e comercializar. “Eu comecei a fazer máscaras para venda e continuo fazendo, porque ainda tá difícil”, afirma. Ela acredita que se tivesse o domínio de recursos tecnológicos para auxiliar no seu trabalho e divulgar seus produtos isso ajudaria a melhoras as vendas.

Fonte: Quebrada Tech/UOL