Quarentena impulsiona redescobertas em casa

Atualizado em 29/7/2020

Em isolamento, pessoas descobrem novos hobbies, conhecimentos inesperados e até impulsionou projetos de empreendedorismo

Com o isolamento social na pandemia de coronavírus, o tempo em casa ganhou um novo significado – para quem pode permanecer em quarentena, pelo menos. As horas antes gastas em transporte, compromissos de trabalho e sociais foram ressignificadas. No isolamento, pessoas estão preenchendo o tempo extra com hobbies novos, redescobrindo atividades perdidas com o tempo e até mesmo empreendendo.

Atividades físicas, aprender a tocar um instrumento ou iniciar projetos novos é benéfico durante o período de isolamento social, afirma Hélio Deliberador, psicólogo e professor na PUC-SP. Ele coordena um projeto de atendimento clínico na universidade e conta que os relatos de depressão e ansiedade aumentaram no período.

Encontrar novas formas de passar o tempo, sem compromisso com produtividade ou preocupações externas, é uma maneira de descarregar a tensão durante a pandemia. E isso pode ser, até mesmo, criando uma empresa ou projeto entre amigos.

A quarentena foi um empurrão para projetos que se firmavam no papel, mas não saiam. As amigas Larissa Costa, Mariana Gomes e Aline Aoki fundaram sua própria marca de venda de adesivos, a UseKapri.

De Campinas, as três amigas participam de um projeto social e até se reaproximaram no processo. “Nunca tínhamos feito um projeto juntas e até brincávamos de fazer uma marca juntas”, conta Larissa. Com o sucesso do trabalho, veio a ideia de empreender.  “Foi um superempurrão da quarentena. No projeto social percebemos que a gente formava um time bom”, explica a jovem. “E com certeza o plano é continuar com a Kapri.”

Outros aprendizados podem surgir do inesperado. Estudante de Biblioteconomia, Tainá Ferreira aprendeu a pintar paredes e até passar gesso durante o isolamento. “Passo a quarentena na casa dos meus pais em Guarulhos. Minha prima se mudou de casa, precisava de reformas, e eu me dispus para ajudar a pintar a parede”, relata. “Pintei a casa dela inteira e aprendi bastante coisa com o pedreiro oficial da reforma.”

No processo, aprendeu a pintar paredes e até passar gesso e rejunte. “Foi legal, consegui distrair a cabeça de toda essa pandemia e da faculdade também”, conta Tainá. Ela até brinca: “se nada der certo acho que consigo ser aprendiz de pedreiro.”

Helio, da PUC-SP, ainda destaca que é um conjunto de atividades, entre várias categorias diferentes, que ajudam o emocional durante o isolamento social. Elas podem pertencer aos cuidados físicos, espirituais, emocionais e até mesmo sociais. Todas elas podem ser válvulas de escape em frente à pressão da pandemia e a impossibilidade de sair de casa.

Com o início da quarentena, Giovanna Stael fez a migração reversa de São Paulo à cidade natal, Taubaté. Estudante de Jornalismo, ela conta de uma velha paixão pela cozinha – que tinha se perdido com a rotina da capital, para onde se mudou há dois anos. “Comida sempre foi importante para mim e em São Paulo, por algumas razões, criei a cultura de comer fora de casa”, diz.

Bruna Ricardo, que mora no interior do Paraná, também descobriu uma paixão na cozinha: pães. “Começou do nada, durante o primeiro lockdown da cidade, com esfihas. Pego receitas da internet e faço pão, cueca virada… meu forte é massa”, conta. A descoberta a ajuda até mesmo nos piores dias. “É como um hobbie. Quando estou com ansiedade, me sentindo mal, cozinhar alegra meu dia.”

Desde o início do ano, o tópico “como assar pão” subiu nas pesquisas do Google logo após o decreto da quarentena. O Nexo Jornal ainda compilou termos que cresceram em pesquisas do Google no isolamento, como cadeiras de escritório ou AirFryer.

Tanto Giovanna quanto Bruna passam os primeiros meses da quarentena com a família, e o tempo na cozinha aproxima até mesmo as relações em casa. “Agora cozinho todas as refeições, faço para a família inteira. É bom saber o que estou comendo, ter hábitos melhores. A refeição é um momento importante, de sentar junto”, diz Giovanna. Bruna relata, em tom humorado: “minha mãe começou a me chamar de ‘rainha das massas’.”

Fonte: Jornal do Campus/USP