Os Agentes Comunitários de Saúde na linha de frente da pandemia

Atualizado em 16/7/2020

Pelo menos 50 agentes de saúde já morreram vítimas da covid-19 no Brasil. Contudo, dados são subestimados no país.

O Brasil é um dos epicentros da Covid-19 no mundo, com 1,8 milhão de pacientes infectados e 72 mil mortos. Situação que é agravada diariamente pela falta de políticas públicas que reconheçam a gravidade da doença e medidas efetivas de combate. Como reflexo, os Agentes Comunitários de Saúde têm sofrido na linha de frente. 

Na maior parte do país, principalmente nas áreas mais carentes, são os agentes de saúde que fazem o primeiro contato com a população. Entretanto, como eles não são considerados profissionais de saúde no Brasil, estima-se que apenas 9% receberam o correto treinamento de controle das infecções, além dos adequados equipamentos de proteção individual (EPI). 

Por conta disso, os sindicatos dos profissionais estimam que 50 Agentes Comunitários de Saúde tenham morrido por conta da Covid-19. Contudo, é muito possível que os números estejam muito abaixo da realidade, pois os óbitos não são registrados em estatísticas oficiais de mortalidade dos trabalhadores da saúde.

Quem são os Agentes Comunitários de Saúde no Brasil 

Atualmente, existem cerca de 286.115 mil Agentes Comunitários de Saúde credenciados em todo Brasil. Eles exercem um papel importantíssimo em nosso Sistema Único de Saúde (SUS), pois prestam atendimento primário de saúde em seu território. São responsáveis por fazer visitas domiciliares e estabelecem uma relação de confiança entre as comunidades e o sistema de saúde.

Mas mesmo desempenhando essas atividades, os agentes de saúde não tiveram orientações claras sobre seu papel no combate a Covid-19. Em um informe do Ministério da Saúde, veiculado no mês de março, existem recomendações como:

  • Auxiliar a equipe no monitoramento dos casos suspeitos e confirmados;
  • Realizar busca ativa de novos casos suspeitos de síndrome gripal na comunidade;
  • Realizar busca ativa quando solicitado. Principalmente em casos de pacientes que se enquadram no grupo de risco (gestante, pessoas com doenças crônicas, puérperas e idosos) e não compareceram a unidade de saúde para a realizar a vacina contra influenza;
  • Organizar o fluxo de acolhimento de modo a evitar aglomeração de grupos com mais de 10 pessoas e, preferencialmente em ambientes arejados;
  • Auxiliar as atividades de campanha de vacinação de modo a preservar o trânsito entre pacientes que estejam na unidade por conta de complicações relacionadas a Covid-19, priorizar os idosos;
  • Realizar atividades educativas na unidade enquanto os pacientes aguardam atendimento.

Contudo, as recomendações são bastantes contraditórias. Pois, o documento ainda recomenda aos mesmos agentes de saúde:

  • Não realizar atividades dentro domicílio. A visita estará limitada apenas na área peri domiciliar (frente, lados e fundo do quintal ou terreno);
  • Priorizar visita aos pacientes de risco (pessoas com 60 anos ou mais ou com doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão, doença cardíaca, doença renal crônica, asma, DPOC, doença cardíaca, imunossuprimidos, entre outras). Por serem grupo de risco, são os que precisam de mais cuidado também;
  • Manter distanciamento do paciente de no mínimo 1 metro, não havendo possibilidade de distanciamento, utilizar máscara cirúrgica;
  • Higienizar as mãos com álcool em gel;
  • Nos casos de visita às pessoas com suspeitas de Covid-19, sempre utilizar máscara cirúrgica e garantir uso de EPI apropriado. 

As medidas de segurança no combate ao novo Coronavírus requerem distanciamento social e isolamento, o extremo oposto das atividades desenvolvidas pelos Agentes Comunitários de Saúde.

Em algumas cidades, os agente de saúde foram alocados para o trabalho remoto, usando telemedicina e redes sociais para manter contato com as famílias. Já em outros municípios, eles foram encarregados de responsabilidades como garantir o distanciamento social em espaços públicos, algo que foge completamente do seu papel e rotina de trabalho.

Vale lembrar ainda que durante a pandemia, também crescem o ônus de doenças crônicas e transmitidas por mosquitos, como a Dengue, a Zika e a Chikungunya, que no momento não recebem a atenção devida dos profissionais.

Fonte: Sanar Medicina