Covid-19: ‘Cansei de lavar compras’. Risco de se infectar ainda existe?

Atualizado em 7/10/2020

Infectologista ressalta que pandemia ainda está em curso e afirma: “Não tem como saber se alguém que estava contaminado tossiu numa embalagem”

“A minha família era a mais ‘noiada’ de todas, a gente ia no mercado, chegava em casa e lavava todas as compras, uma por uma. A gente ia passear com o cachorro, lavava as patas do cachorro e ia tomar banho”, conta o publicitário Gustavo (nome fictício), 27 anos.

Gustavo explica que, com o tempo, os hábitos foram afrouxando. “Não é sempre que eu chego e tomo um banho direto. Se eu não fiquei muito tempo fora, eu aproveito, faço um exercício e depois eu vou para o banho.”

O infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que ainda vivemos uma pandemia com números expressivos e por isso os hábitos de higiene adotados como medida de segurança contra a contaminação pelo coronavírus devem continuar, mas explica que precisa existir bom senso.

“A grande maioria das pessoas vai entendendo e vai começando a agir com uma certa coerência. Claro que algumas pessoas podem ter uma compulsão, mas elas teriam para outras coisas, é algo da psique dessa pessoa. Se você está em casa e só foi buscar uma encomenda na portaria e voltou, não precisa tomar banho, mas pode tirar o sapato na porta”, afirma o médico.

“Antes de entrar no carro eu levava um spray, jogava na maçaneta, no volante, dirigia de máscara. Eu não acho que a gente superou a covid-19, o risco ainda é alto, mas a gente ganhou um pouquinho de confiança. Acho que é possível se cuidar sem estar obcecado. O que a gente fazia antes estava deixando a gente doido”, conta Gustavo.

“Viver recluso faz mal, e onde quer que você encoste é um perigo. Isso traz problemas psicológicos reais”, acredita.

Jéssica Amanda Souza, 21, operadora de caixa, conta que no começo da pandemia seguia todas as orientações de higiene.

“No começo, eu fazia tudo: máscara, trocar a máscara em certo tempo, limpar a casa com mais frequência, tirar a roupa e tomar banho assim que chegasse, mas quando eu voltei a trabalhar e vi que as pessoas não estavam respeitando as regras, muitos idosos na rua, sem máscara na feira, eu achei que estava exagerando e afrouxei meus cuidados.”

Jéssica explica que não é do grupo de risco e por isso manteve só os cuidados que considera mais importantes, como lavar as mãos e usar máscara.

O infectologista explica que as medidas de higiene como lavar as compras e tomar banho depois que chegou da rua são importantes porque não há como saber a quais riscos uma pessoa foi exposta. “Não tem como saber se alguém que estava contaminado tossiu numa embalagem.”

Além disso, ele explica que certos hábitos de higiene deveriam ser praticados mesmo sem o novo coronavírus em circulação. “Se você tem uma criança pequena em casa, que anda no chão, engatinha, coloca a mão na boca, é uma questão de higiene tirar o sapato na entrada. Se você vem da rua depois de pegar condução, você não sabe os patógenos que você entrou em contato, você não vai direto brincar com seu filho.”

Para ele, o ideal seria que os hábitos continuassem mesmo após o fim da pandemia. “Pelo menos o de lavar as mãos frequentemente. Os adultos são mais difíceis de aceitar assimilar novas instruções, mas acredito que as crianças continuem.”

Natália Werner, 30, educadora, explica que antes da covid-19 não tinha esses hábitos, mas que o medo de se contaminar e contaminar a família dela fez com que ela começasse a se preocupar mais.

“Hoje, assim que eu chego em casa, limpo pelo menos meu calçado com álcool, limpo todas as minhas compras, vou direto para o banho. Vou continuar fazendo porque acho bem prudente esse cuidado, de pelo menos limpar as compras, a gente não pensava no que pode ser transmitido. Hoje eu penso quantas pessoas colocaram a mão naquela batata antes dela ir para minha geladeira. Faz mais sentido limpar toda a compra antes de guardar.”

Guilherme Monteiro, 22, analista de suporte, conta que também aumentou os hábitos de higiene com o início da pandemia e que pelo menos o de higienizar as mãos vai manter mesmo após a pandemia acabar. “Minha mãe já não deixava entrar de sapato em casa, mas eu comecei a lavar muito mais as mãos e usar álcool em gel e isso já virou hábito para mim.”
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Fonte: R7