A vacina da AstraZeneca é segura? Perguntas e respostas sobre o imunizante que foi suspenso em países europeus

Atualizado em 16/3/2021

União Europeia registrou cerca de 30 casos de trombose e pelo menos uma morte entre seis milhões de pessoas já imunizadas com o produto e agora investiga as possíveis relações entre o imunizante e os episódios de formação de coágulos

França, Alemanha, Espanha e Itália decidiram nesta segunda-feira suspender temporariamente a administração de vacinas da AstraZeneca contra a covid-19, seguindo o exemplo de outros países que tomaram a mesma medida na semana passada, após algumas dezenas de casos de pessoas que haviam recebido as injeções desenvolverem coágulos. A diretora executiva da Agência Europeia de Medicamentos, Emer Cooke, disse nesta terça-feira que a agência continuará a investigar e a avaliar as reações da AstraZeneca antes de tomar uma decisão final se o imunizante deve ser suspenso. O anúncio será realizado nesta quinta-feira. Cooke está “firmemente convencida” de que os benefícios da vacina superam seus potenciais efeitos colaterais. A seguir, o EL PAÍS repassa algumas das principais questões em torno desta medida e o que se sabe até agora sobre esse imunizante.
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Por que alguns países deixaram de administrar a vacina da AstraZeneca?

Na semana passada, as autoridades sanitárias austríacas detectaram dois casos graves de trombose (coágulos no sangue) depois da inoculação. Uma dessas pessoas morreu 10 dias depois de receber a vacina, e outra precisou ser hospitalizada com embolia pulmonar. Depois, a Dinamarca detectou outro caso de trombose grave depois da inoculação do fármaco. “Como medida de precaução, as autoridades sanitárias suspenderam a vacinação com a [vacina da] AstraZeneca depois de um sinal de um possível efeito secundário grave em forma de letais coágulos de sangue. Atualmente não é possível concluir se há uma conexão [com a vacina]. Atuamos precocemente, [e o caso] deve ser investigado a fundo”, tuitou na quinta-feira o ministro dinamarquês da Saúde, Magnus Heunicke. O país estava reagindo à morte de um cidadão dinamarquês, mas o Executivo local insistia em que “não se pode relacionar esta morte com a vacina da AstraZeneca”. Depois da decisão da Dinamarca, a Noruega e a Islândia tomaram a mesma medida, e logo em seguida a Irlanda.

Então, alguns países também anunciaram suspensões na vacinação com a AstraZeneca, mas só de um lote concreto (o ABV5300), que estava relacionado aos casos de trombose. Essa foi a decisão adotada pela Áustria e também por Letônia, Estônia, Lituânia, Luxemburgo, Itália e Romênia. Cinco das 17 regiões espanholas também deixaram de usar esse lote na sexta-feira passada.

Nesta segunda, vários outros países se somaram à suspensão total da vacinação com a AstraZeneca, de forma temporária: Alemanha, França, Itália, Países Baixos e Espanha. A AEMPS disse que o ministério espanhol da Saúde deu esse passo porque, durante o fim de semana, foram recebidas algumas notificações de trombose venosa cerebral (sendo um caso na Espanha), os quais “é preciso estudar mais a fundo, já que são muito pouco frequentes na população geral”. Na UE, onde milhões de pessoas receberam essa vacina, só há registro de 11 casos de trombose deste tipo.
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O que é uma trombose venosa cerebral?

É um tipo de trombose muito pouco frequente, da qual foram detectados 11 casos na Europa depois da administração da vacina da AstraZeneca contra a covid-19. “A trombose de seio venoso é um coágulo que impede que o sangue saia do cérebro. Se afetar uma veia pequena, provoca uma dor de cabeça ou um ataque epilético. Se afetar um seio [veia] grande, pode provocar um edema cerebral, aumenta a pressão cerebral e pode acarretar uma complicação muito grave”, explica Jaume Roquer, chefe de Neurologia do Hospital del Mar de Barcelona. O médico confirma que são episódios raros – 0,5% de todos os acidentes vasculares cerebrais –, com uma sintomatologia muito inespecífica. Pode ser tratada com anticoagulantes e, em 90% dos casos, é curada sem sequelas.
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Há muitos casos de coágulos?

Não. Na Espanha, por exemplo, a proporção de vacinados com a AstraZeneca que desenvolveram estes episódios é menor que entre a população geral. Segundo a AEMPS, “na Espanha, foram administradas mais de 769.415 doses desta vacina, por isso a taxa de notificação é muito inferior aos casos esperados no total da população”. A AEMPS foi informada no último fim de semana, entretanto, que entre seis milhões de dose administradas na UE foram registrados 11 casos de um tipo de trombose muito pouco frequente, a trombose venosa cerebral.
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Está provada a relação entre a vacina e os casos de trombose?

Não. Por enquanto se desconhece se os casos de trombose estão relacionados com a administração do fármaco.
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A vacina é segura?

Sim, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês). “É claro que devemos fazer um acompanhamento de tudo o que acontece, mas não há motivo para pânico. Recomendamos que os países continuem vacinando com a AstraZeneca”, afirmou a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan. Depois da escalada de novos países que interromperam a administração da vacina da AstraZeneca, a EMA declarou em nota nesta segunda-feira que os episódios de trombose continuam sendo investigados. “Os especialistas estão analisando em detalhes todos os dados disponíveis e as circunstâncias clínicas que cercam casos específicos para determinar se a vacina pode ter contribuído ou se é provável que o evento se deva a outras causas”, afirma o comunicado. A EMA ressalta, “embora a investigação ainda esteja em curso”, sua opinião de que os benefícios da vacina AstraZeneca superam os riscos.
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Quando termina a investigação sobre os casos de trombose?

A EMA informa que seu comitê de segurança analisará “a fundo” a informação nesta terça-feira e convocou uma reunião extraordinária na quinta, dia 18, para tomar uma decisão.
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O que diz a AstraZeneca?

Fontes da empresa relataram ao EL PAÍS que os protocolos habituais preveem a suspensão da administração de um fármaco quando são detectados efeitos secundários imprevistos, mas remetem à nota da EMA na qual consta que por enquanto só há uma relação temporal, mas não causal. Ou seja, sabe-se que ao certo que os coágulos apareceram depois da administração da vacina, mas não necessariamente como consequência desta, até onde se sabe. A AstraZeneca, prosseguem estas fontes, já fez a uma revisão de qualidade dos lotes da vacina e não encontraram defeito algum.
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Ao todo, até a última sexta-feira haviam sido registrados casos de trombose em aproximadamente 30 pessoas entre seis milhões que receberam o medicamento na Europa. Na Espanha, segundo a Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários (AEMPS), foram notificados três casos de trombose entre pessoas vacinadas com o produto da AstraZeneca, mas sem consequências graves.

Fonte: El País Brasil