Uso de máscara, além de proteger, pode reduzir sintomas da Covid-19

Atualizado em 18/9/2020

Um artigo divulgado pela revista científica New England Journal of Medicine (NEJM) indica que o uso de máscara, além de proteger do novo coronavírus, diminui chances de complicações por quem é contaminado. A publicação é uma perspectiva feita sob uma análise de dados e estudos divulgados em todo mundo a respeito do uso de máscara e adoção ao distanciamento físico.
“À medida que o Sars-CoV-2 continua sua propagação global, é possível que um dos pilares do controle da pandemia COVID-19, o mascaramento facial universal, possa ajudar a reduzir a gravidade da doença e garantir que uma proporção maior de novas infecções seja assintomática. Se essa hipótese for confirmada, o mascaramento universal poderia se tornar uma forma de “variolação” que geraria imunidade e, assim, retardaria a disseminação do vírus nos Estados Unidos e em outros lugares, enquanto aguardamos uma vacina”, diz o artigo assinado pelos médicos e cientistas Monica Gandhi e George W. Rutherford e publicado nessa terça-feira (8).
Esse potencial que o artigo chama de “variolação” é uma referência ao processo de imunização utilizado em meados do século 18 para prevenir a varíola. Esse método era feito inoculando uma varíola benigna para proteger a pessoa contra a forma grave da doença.
“Era aplicar ‘casquinha de pereba’ das pessoas que tinham varíola na população. Como sendo uma ‘imunização com poucos vírus’ e deixando o resto para o organismo resolver”, explica Unaí Tupinambás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A publicação indica que o número de pessoas que não desenvolve sintomas de COVID-19 pode aumentar entre os que usam máscara. “Podemos ter tido realmente muitos casos assintomáticos (de COVID-19) que sequer foram detectados nos inquéritos”, acredita o especialista.
Isso também pode explicar o motivo de casos aumentarem e as hospitalizações e mortes não crescerem na mesma medida. “Os autores estão dizendo que a máscara diminui tanto a liberação de vírus quanto a possibilidade de uma pessoa com máscara pegar o vírus. E, quanto maior a quantidade de vírus que afeta uma pessoa, maior a quantidade de sintomas dela”, acrescenta a microbiologista e professora Viviane Alves, do Departamento de Microbiologia da UFMG.
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Texto não é conclusivo

Para testar a hipótese de que o mascaramento em toda a população é uma das estratégias enquanto não se tem uma vacina, os cientistas que assinam o artigo deixam claro que é preciso mais estudos comparando a taxa de infecção assintomática em áreas com e sem mascaramento.
“Esse não é, de fato, um estudo. É uma perspectiva que fala sobre dados disponibilizados e algumas hipóteses sobre o efeito de máscaras e distanciamento”, explica Viviane.  “A gente não pode afirmar ainda no mundo inteiro, nem no Brasil, que a máscara está levando pessoas a serem menos sintomáticas”, ressalta.
Mesmo assim, a análise publicada na revista científica é um avanço que reforça a necessidade de proteção facial, como finalizam os autores. “O combate à pandemia envolverá a redução das taxas de transmissão e da gravidade da doença. Cada vez mais evidências sugerem que o mascaramento facial em toda a população pode beneficiar ambos os componentes da resposta”, diz o texto.
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Use máscara

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que governos incentivem o uso da proteção, mas especialistas alertam: máscara não é vacinanem elimina a necessidade do distanciamento social. E precisa ser usada corretamente, associada a medidas de higiene.

“A máscara forma uma barreira física, não impede 100% de se infectar. Por isso a gente fala: usar a máscara sem fazer distanciamento, não adianta nada”, afirma a microbiologista. “Com essa flexibilização onde em bares e praias as pessoas aglomeram sem máscara, o que a gente vai observar é provavelmente o número no aumento de casos e de mortes”, aponta Viviane.
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Fonte: Estado de Minas