Seis lições de empreendedoras e autônomas que sobreviveram à pandemia

Atualizado em 6/7/2020

Investir nas redes sociais e no relacionamento com clientes, buscar conhecimento técnico e diversificar ofertas são algumas das iniciativas que ajudaram pequenos negócios a sobreviver à crise econômica provocada pelo coronavírus

Seja de forma definitiva ou temporária, mais de 522 mil negócios fecharam na primeira quinzena de junho no Brasil. O que equivale a quase 40% de 1,3 milhão de empresas que já haviam suspendido suas operações depois do início da pandemia. De acordo com o IBGE, quase a totalidade (99,2%) destes negócios eram de pequeno porte, categoria em que se enquadram empreendimentos com até 49 funcionários. Antes mesmo deste levantamento, a Rede Mulher Empreendedora (RME) e o Instituto Locomotiva já haviam analisado o impacto nas pequenas empresas lideradas por mulheres – elas, aliás, são maioria no comando de pequenos negócios no país.

Conforme pesquisa conduzida pelas duas instituições em maio, um terço das empreendedoras já admitiam ficar totalmente sem renda por conta da pandemia. E 86% dos negócios liderados por mulheres fecharam ou passaram a funcionar parcialmente depois que o isolamento social foi instituído. O cenário que se agravou, segundo Ana Fontes, CEO da Rede Mulher Empreendedora, pelo fato de o acesso a crédito ser mais limitado para mulheres – um problema anterior à chegada da Covid-19.

Para apontar alguns caminhos possíveis, Marie Claire ouviu mulheres que encontraram soluções para dar continuidade a seus empreendimentos, reinventaram o negócio ou aproveitaram o momento para se arriscar em habilidades que antes pareciam desnecessárias ou eram relegadas.

1. BUSQUE QUALIFICAÇÃO

Na falta de auxílio governamental e acesso a financiamentos, foi e segue mandatório negociar. É preciso olhar com calma para as necessidades do negócio e entender o que pode ser postergado e remoldado. “Como a maioria das mulheres empreendem sem preparação, do ponto de vista de formação mesmo, pode ser necessário buscar ajuda, rede de apoio, conselhos de quem já passou por problemas semelhantes ou tem conhecimentos específicos para ajudar”, aponta Gal Barradas, ela mesma empreendedora e investidora de startups, por meio da Gal Barradas Brand&Venture.

2. AMPLIE A REDE DE APOIO

Ana Fontes, que por meio de sua RME colocou em curso diversas iniciativas – de mentorias e eventos virtuais a parcerias – chama a atenção também para o simplificar de soluções. “É hora de inovar e muitas vezes a inovação é encarada como algo espetacular. Mas ela pode estar em soluções simples, que possam sanar problemas básicos e garantam a sobrevivência do negócio neste momento de pandemia”, diz ela.

3. INVISTA NO RELACIONAMENTO COM O CLIENTE

A WonderSize, empresa de roupas fitness plus size completaria seus três anos de vida em grande estilo. Depois de passar por uma aceleração pela Startup Fashion, Amanda Momente e sua sócia, a designer Marioli Oliveira, abriram uma loja no shopping atacadista MegaPolo, em São Paulo. Também colocavam em curso o projeto de distribuição de suas peças – que vestem até o manequim 70 – na rede Centauro. Oito dias após a inauguração, a loja foi fechada em função das determinações de distanciamento social.

“Vínhamos a todo vapor e tivemos que brecar para rever toda a estratégia de crescimento”, lembra Amanda. O maior impacto, ela explica, foi nas vendas, o que resultou em queda de faturamento e uma desaceleração na produção. A loja no MegaPolo também não será reaberta. “Por sorte, em fevereiro já havíamos entregue os demais pontos físicos e, com a pandemia, só migramos de um escritório para o home office. Mas buscamos não paralisar e nos concentrar em fortalecer o relacionamento com clientes”, diz Amanda. A marca ainda deve lançar nos próximos meses, uma linha casual.

4. DIVERSIFIQUE SEUS PRODUTOS E SERVIÇOS

“Tivemos que pivotar”, conta Andrea Janér, usando o termo famoso no mundo das startups que significada uma mudança radical nos negócios. Apaixonada por inovação, Andrea já vinha de uma jornada de reinvenção quando, ao lado da sócia Silvia Rosenthal, fundou a Oxygen, há um ano. Nos moldes das melhores escolas de inovação e tendências do mundo, a empresa nasceu oferecendo quatro modelos de serviços diferentes – o que incluía cursos livres e projetos de branded content e transformação cultural. O ponto alto, (e rentável) porém, eram as viagens para os grandes festivais e polos mundiais de tecnologia e futuro. A turma inaugural aconteceria no famoso South by Southwest (SXSW) previsto para 13 de março deste ano. E cancelado, dias antes da data marcada, quando a Covid-19 ganhava ares de pandemia.

“Considero que nossa grande sacada foi seguir aquele provérbio que ensina a nunca colocar os ovos na mesma cesta”, avalia Andrea. Foi Silvia, com ampla experiência no ramo de viagens, quem assumiu as rédeas da situação quando o cancelamento do SXSW pareceu eminente. Os clientes foram compreensivos. “Mas naquele fim de semana, chorei baldes. Passei a ler tudo o que encontrava sobre corona vírus e entendi o tamanho do problema que nós, como humanidade, iríamos enfrentar”, relembra.

Passada a frustração, migraram os alunos de seus cursos para o ambiente virtual e se debruçaram na criação de um novo serviço considerando a realidade de que muito do que acontecia presencialmente, agora precisaria ser viabilizado a distância. Foi assim que lançaram nesta semana, o Oxygen Club, assinatura de conteúdo para o público cada vez mais crescente das fontes de inovação que antigamente eram reunidas em grandes eventos presenciais, com curadoria pronta, onde tudo que se precisava era adquirir ingressos e seguir uma agenda de programação. De inteligência artificial e psicologia positiva a tendências de varejo e explicações sobre comportamentos como a cultura do cancelamento, o serviço promete um SXSW mensal e ao alcance de um clique.

6. FORTALEÇA REDES SOCIAIS

Além das empreendedoras, profissionais autônomos também precisaram ou puderam rever formas de atuação. Não necessariamente pela inviabilização do trabalho, mas por reflexões que os dias de isolamento proporcionaram. Foi o caso da cirurgiã plástica Larissa Sumodjo, que já vinha investindo mais em seu consultório depois que os dois filhos – uma menina de três anos e um menino de um ano – começaram a ficar mais independentes. Com a pandemia, alguns insights vieram: ela, que sempre se considerou uma pessoa mais reservada fora de seus círculos próximos, resolvi investir em comunicação. Para além do relacionamento com pacientes, passou a se dedicar também às redes sociais, onde fala sobre os procedimentos mais procurados, tira dúvidas em relação a cirurgias estéticas e reparadoras e divide suas reflexões como mãe. “Senti necessidade de me comunicar mais, de arriscar. Acho que o isolamento tirou muitos de nós da zona de conforto, sobretudo na esfera profissional”, comenta a médica.

Para Ana Fontes, que por meio da Rede Mulher Empreendedora disponibilizou uma série de ferramentas para apoiar as mulheres que possuem negócios próprios – de mentorias e apoio a saúde mental à captação de recursos financeiros e criação de programas de aceleração como o Potência Feminina, em parceria com o Google –, “empreender é como uma maratona recheada de obstáculos, acentuados neste momento por uma situação sem precedentes”. Porém, como mostram as histórias de Amanda, Andrea e Larissa, resiliência, paciência e serenidade para lidar com os altos e baixos se fazem mais fundamentais que nunca.

Fonte: Marie Claire