Reinfecção pelo coronavírus: o que dizem os estudos

Atualizado em 18/8/2020

A possibilidade de reinfecção pelo novo coronavírus é assunto que tem sido foco de atenção de pesquisadores, autoridades sanitárias e população em geral. Já até abordamos o assunto. Porém, como tudo relacionado à uma doença que só vem sendo estudada há apenas alguns meses, esta é uma questão que demandará tempo e pesquisas para completa elucidação.

Neste post pretendemos abordar não casos ou estudos individuais, mas aquilo que pode ser extraído das pesquisas feitas até o momento.
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Imunidade e risco de reinfecção pelo coronavírus

A resposta imunológica que se segue à infecção pelo vírus SARS-CoV-2 consiste em produção de anticorpos (resposta humoral) e resposta mediada por células (resposta celular). As evidências preliminares apontam que esta resposta é protetora, mas permanece a necessidade de completa confirmação.

Permanece também incerto se todos os pacientes infectados são capazes de montar esta resposta imune com efeito protetor, bem como por quanto tempo o efeito duraria. Mesmo assim, o risco de reinfecção a curto prazo (nos primeiros meses após a primo-infecção) parece ser baixo.

Para abordar o tema de forma não superficial, é necessário revisar os dados trazidos pelos estudos sobre a resposta imunológica produzida pela exposição ao SARS-CoV-2.
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Imunidade humoral

Uma série de casos avaliando plasma convalescente para tratamento da COVID-19 identificou atividade neutralizante no plasma de pacientes recuperados. Em outro estudo, os anticorpos foram detectados após 14 dias de início dos sintomas na maioria dos 23 pacientes estudados.

A titulação por ELISA dos anticorpos se correlacionou com a atividade neutralizante. Mas alguns dados apontam que a produção dos anticorpos pode estar correlacionada com a gravidade da doença, e pacientes com doença leve podem não ter anticorpos neutralizantes em níveis detectáveis.

A duração da atividade neutralizante após a infecção é incerta, e os anticorpos neutralizantes decaem alguns meses após a infecção. Em um estudo com 37 pacientes com COVID-19 sintomática, 62% tiveram redução, em média de 12%, da atividade neutralizante.

Já em outro estudo com 149 pacientes convalescentes, após 39 dias do início da infecção, apenas 1% tinha níveis elevados dos anticorpos neutralizantes.

Em contrapartida, em outro pequeno estudo com 6 pacientes, todos apresentaram células B específicas e anticorpos neutralizantes potentes, independente dos níveis séricos.
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Imunidade mediada por células

Os estudos também identificaram a produção de resposta imune mediada por células T CD4 e CD8 específicas contra o SARS-CoV-2. A resposta foi produzida tanto em indivíduos recuperados da COVID-19, como naqueles que receberam doses de vacinas nas pesquisas.
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Resposta imune protetora em animais

Os estudos em animais têm sugerido que a resposta imune à infecção pode oferecer proteção contra reinfecção, pelo menos a curto prazo. Em um estudo com 9 macacos rhesus, após serem infectados, todos desenvolveram anticorpos neutralizantes. Após nova exposição em 35 dias, todos apresentaram reativação de resposta imunológica.

Ainda neste estudo, os previamente infectados apresentaram menor carga viral em SWAB nasal, bem como clearence de RNA viral mais rápido, quando comparados consigo mesmos na primoinfecção, ou com animais controles.

Estudos de vacinas em macacos também sugerem que a resposta imune à vacinação tem como consequência menores níveis ou clearence mais rápido de RNA viral em amostras do trato respiratório de animais infectados após vacinação, em comparação com controles não vacinados.
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Teste positivo após recuperação não indica necessariamente reinfecção

Alguns estudos avaliaram pacientes com COVID-19 confirmada, após melhora clínica e dois resultados negativos consecutivos de RT-PCR, e mostraram que o teste RT-PCR para SARS-CoV-2 podia apresentar-se positivo.

Todavia, os testes positivaram logo após os resultados negativos prévios, não foram associados, de forma geral, à recorrência de sintomas, podem não representar vírus infectante e possivelmente não refletem reinfecção.

Na Coreia, os testes positivos de pacientes que já haviam se recuperado não conseguiram isolar o vírus em cultura de células em nenhum dos 108 pacientes testados. Além disso, dentre os 790 contatos rastreados, nenhum novo caso foi confirmado após exposição àqueles com resultado positivo repetido.
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Conclusão

Há muitas dúvidas a serem esclarecidas a respeito do novo coronavírus. O que podemos concluir, diante do acima exposto, é que a reinfecção parece ser improvável, e caso aconteça, é caso de exceção, e não regra.

Trouxemos aqui a abordagem científica da questão. Há muitos relatos de casos possíveis de reinfecção sendo investigados pelo governo, inclusive aqui no Brasil. Porém, ainda se faz necessário estudos para elucidação completa da questão.
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Fonte: Sanar Medicina