Existe vacina melhor? Grávida pode tomar? Altera o DNA? Drauzio Varella e especialistas respondem dúvidas

Atualizado em 18/1/2021

Existe a melhor vacina do mundo? Mulher grávida pode? E depois da segunda dose? Existe alguma doença que impeça? O Dr. Drauzio Varella tirou essas dúvidas com quatro dos maiores especialistas brasileiros na doença, num encontro preparatório para o Simpósio Nacional sobre Vacinas Contra a Covid-19, que o Instituto D’or de Pesquisa e Ensino vai realizar no fim desse mês. Ésper Kallas, infectologista da USP, Ricardo Gazzinelli, pesquisador da UFMG, Margareth Dalcolmo, pneumologista da PUC-RJ e José Cerbino Neto, infectologista da Fiocruz responderam diversas perguntas sobre o tema.
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As vacinas contra a Covid provocam alergia?

Kalas – Muito mais fácil a pessoa ter alergia se passar um creme no rosto ou tomar um remédio pra dor de cabeça do que ter uma alergia as vacinas.
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Posso pegar Covid tomando uma vacina que é feita com o vírus da doença?

Kalas – não, as vacinas são feitas sem utilizar o novo coronavírus completo. A vacina Astrazeneca, a da Fiocruz, usa um outro vírus, que é inofensivo, para levar apenas informações genéticas do coronavírus. E a Coronavac, a do Butantan, usa o coronavírus, mas inativado, sem a capacidade de se replicar no organismo.
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Existe algum risco em tomar a primeira dose da vacina de uma marca e a segunda de outra marca? por exemplo: a primeira dose da Coronavac e a segunda da Astrazeneca?

Gazzinelli – Olha, não é recomendável que se utilize uma vacina na primeira dose e outra vacina na segunda dose.
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Depois da segunda dose a pessoa está imediatamente imunizada?

Dalcomo – Quando alguém nos pergunta, por exemplo uma pergunta pratica, se pode viajar logo depois de tomar a segunda dose, a resposta que eu daria é não. Que nós deveremos esperar pelo menos um mês para a maturação do sistema imunológico da pessoa.
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Quem tem câncer, diabetes ou alguma doença cardíaca pode ser vacinado?

Cerbino – Pode, pode se vacinar. essas comorbidades estão previstas inclusive entre os grupos prioritários.
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Como que as pessoas que são do grupo de risco vão fazer pra comprovar a situação delas e ter prioridade na vacina?

Dalcomo – É importante que cada um, cada idoso que vá comparecer no serviço de saúde leve uma identidade ou um atestado que eventualmente prove que ele tem uma condição especial que junte com essa identidade, é muito fácil fazer isso.
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É verdade que as vacinas podem alterar o DNA da pessoa e que a Coronavac não é segura por ser chinesa?

Kalas – A China é um dos maiores produtores do mundo de vacina. Todos esses processos passam pelos crivos de produção tanto do governo chinês quanto dos países que vão receber as vacinas, inclusive aqui do Brasil. Em volta disso tudo surgem muitas teorias conspiratórias dos mais diversos tipos. Que a vacina causa autismo, que a vacina tem mercúrio, que a vacina tem formol, ou que a vacina altera o material genético das pessoas. Tudo isso é mentira. As pessoas que são contra fazem esse diversionismo. Vão mudando o alvo do seu ataque pra deixar as pessoas confusas.
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Mulher grávida pode tomar vacina? Crianças podem tomar?

Cerbino – No momento a gente não tem dados de segurança e de eficácia da vacina em gestantes e em crianças. Então nesse primeiro momento a vacina não deve ser aplicada em crianças e gestantes.
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Sinto muita dor quando tomo injeção no braço, a vacina pode ser aplicada em outro lugar?

Cerbino – A vacina deve ser aplicada no músculo deltoide, que é o músculo do braço. O fato de ele ter tido dor em aplicações anteriores não significa um risco maior numa nova aplicação com uma outra vacina.
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Quem já foi vacinado ainda transmite o vírus?

Cerbino – Essa é uma boa pergunta. A gente precisa de mais tempo de observação das pessoas vacinadas para ter essa resposta. Os estudos todos focaram na eficácia da vacina, na prevenção da doença. A gente não sabe ainda qual vai ser realmente a eficácia delas pra prevenir a transmissão.
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Depois que eu tomar a vacina eu ainda tenho que usar máscara?

Gazzinelli – É muito importante que as pessoas continuem usando a máscara e mantenham o distanciamento.
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Quem já teve Covid precisa se vacinar?

Kalas – Sim. A defesa que a vacina provoca parece ser de mais potência e uma qualidade diferente do que a infecção natural. Então as vacinações não devem excluir quem teve Covid antes, embora eles possam ficar mais pro fim da fila e dar lugar pra quem ainda não teve.
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Será que a vacinaçao vai ter que ser repetida todos os anos?

Cerbino – Olha, é possível. A gente tem que avaliar primeiro se a proteção conseguida pela vacina vai se sustentar durante esse período todo. E também se o vírus vai passar por alguma modificação em que seja necessário ajustar a vacina para fazer uma nova aplicação.
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Com 70% de eficácia da Astrazeneca, pode-se dizer que ela é “melhor” que a Coronavac, que tem por volta de 50%?

Kalas – As duas são boas e essas diferenças são comuns de aparecerem em projetos de vacina. São ambas extremamente uteis no enfrentamento da pandemia.
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Como posso saber se a vacina que eu vou tomar tem mais ou menos eficácia?

Dalcomo – Todo mundo vai receber aquele celebre cartãozinho onde vai estar o lote da vacina que foi aplicada, como é praxe no Plano Nacional de Imunizações. Ninguém poderá escolher a vacina. A vacina que será aplicada aos grupos de prioridade são aquelas que estarão disponíveis na rede de unidades de vacinação do PNI.
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Existe a melhor vacina do mundo?

Kalas – Nós temos cinco vacinas que já mostraram resultados de eficácia. Teremos provavelmente mais de uma dúzia até o fim de 2021. Aí a gente vai poder dizer que temos uma vacina melhor que a outra.
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Quantos por cento da população precisam ser vacinados pra nós voltarmos a andar pelas ruas sem máscara, não termos preocupação nenhuma, podermos aglomerar a vontade?

Dalcomo – Pelos estudos que a gente conhece, pela nossa experiência, de tudo que foi publicado, e uma população predominantemente urbana no Brasil, 86% de gente vivendo já aglomerado nas cidades, eu diria que nós teremos que vacinar e alcançar uma cobertura de pelo menos 60 a 70 por cento da população brasileira.

Kalas – Mas a resposta vai estar nos hospitais. A gente tem que ver a vacinação crescer até o ponto de o número de pessoas que procuram os hospitais, o número de pessoas que é internado, mas principalmente aqueles que morrem da doença, ficar num nível tão baixo que deixa de ser um problema significativo de saúde publica e de sofrimento.

Gazzinelli – Provavelmente no semestre que vem nos devemos começar a observar uma queda no número de casos novos.

Dalcomo – Gente, a gente ter cinco vacinas aprovadas em menos de um ano é um feito humano absolutamente extraordinário e isso eu tenho dito todas as vezes que eu posso. a humanidade nunca pensou, nem nós mesmos, que isso fosse possível, responder a um desafio de uma maneira tão extraordinariamente positiva.
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Fonte: Fantástico/Globo