Faculdade de Veterinária francesa é parceira do Brasil em projeto de cães que detectam a Covid-19

Atualizado em 12/8/2020

A Faculdade de Veterinária d’Alfort, no leste de Paris iniciou uma pesquisa em maio, durante o confinamento, que visa treinar cães farejadores a detectar o SARS-Cov-2, o coronavírus que provoca a Covid-19. O projeto criado pelo veterinário francês Dominique Grandjean, professor da Faculdade de Veterinária, surge como uma alternativa aos testes tradicionais e agora se expande para outros países do mundo, incluindo o Brasil.

O método é barato e indolor: nada de cotonete no fundo do nariz, fila de espera em laboratórios lotados ou criação de estruturas para testar pessoas em aeroportos, estações, ou outros locais “críticos”, onde o SARS-Cov-2 pode circular mais ativamente.

Os 16 cães farejadores treinados pelo professor francês Dominique GrandJean identificam a presença do vírus sem incomodar o paciente. A “equipe” é composta por animais acostumados a detectar explosivos e cachorros formados pelo corpo de bombeiros para procurar pessoas desaparecidas ou soterradas. Oito deles treinam no campus da faculdade parisiense e o restante na Córsega, ilha no sul da França.

Os cães do projeto foram capazes de detectar a presença do coronavírus apenas cheirando compressas previamente colocadas nas axilas dos pacientes. Os testes positivos, em seguida, foram identificados por eles entre outras amostras negativas.

“É fácil para os cães que detectam explosivos. Eles identificam rapidamente o cheiro do suor de um paciente positivo para a Covid. Já os cachorros formados pelos bombeiros estão acostumados a trabalhar em liberdade. É o caso também desse projeto, mas eles devem seguir um caminho para realizar o teste, por isso demoram um pouco mais”, explica o veterinário francês. O pesquisador acredita que, de acordo com os  resultados, a sensibilidade do teste deve girar em torno de 92 a 96%.
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Parceria com a Universidade de Pernambuco

O projeto está chegando em sua fase de validação e interessou outros países, entre eles a Argentina, o Chile e o Brasil. No país, a Faculdade de Veterinária francesa fechou recentemente uma parceria com uma universidade de Pernambuco, que começou o trabalho há algumas semanas e ainda está treinando os cães.

“Lá, o projeto talvez esteja avançando um pouco mais lentamente. Também temos um contato permanente com a Argentina, o Chile a Austrália. São países que estão se baseando no projeto que fazemos aqui”, declara.

Nos Emirados Árabes Unidos, os cães já estão operacionais, e serão usados em breve para detectar a Covid-19 nos aeroportos. Os passageiros deverão colocar um tubo debaixo do braço cerca de um minuto antes de descer do avião. Em seguida, os cães vão analisar as amostras antes da chegada deles à alfândega.
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Governo francês é reticente

O veterinário francês diz ter dificuldade em entender porque o governo francês não quer testar o método. “É evidente que o teste parece ser tão confiável quanto o PCR e ainda por cima custa muito mais barato. Mas é preciso convencer os médicos, parece que tudo o que não é feito por eles não é bom”, alfineta. “Tenho a impressão de passar pela mesma situação de 25 anos atrás, quando desenvolvemos a pesquisa com os cães que farejam os explosivos. Agora ninguém mais se questiona, todo mundo sabe que funciona”, observa.

O poder do olfato canino já é utilizado em outras situações. O hospital Tenon, em Paris, utiliza cães para detectar o câncer da próstata. O veterinário explica que existem projetos na Faculdade para obter um diagnóstico do câncer do cólon, da bexiga, e para ajudar pacientes com o Mal de Parkinson.

Em seguida, diz, o desafio é incluir essa alternativa na rotina dos médicos: há profissionais da saúde, diz, que viram os resultados e acreditam no diagnóstico dos animais, outros são mais céticos. A capacidade olfativa dos cães, no entanto, é conhecida, e milhares de vezes mais apurada do que de um ser humano. O cachorro tem duzentos milhões de receptores olfativos – 25 vezes  mais do que o homem.

O cão é capaz, por exemplo, de detectar uma gota de sangue em cinco litros de água.  “Se você colocar duas colheres de farinha ao equivalente a duas piscinas olímpicas em volume de água, o cão será capaz de detectar a farinha dentro desse volume”, resume.

Fonte: UOL