Cientistas que estudam o coronavírus contam o que mudou na rotina na pandemia

Atualizado em 20/7/2020

Em três meses de pandemia do novo coronavírus, a presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, foi apenas duas vezes ao supermercado. Tentou o máximo que pôde fazer compras apenas pela internet, mas esbarrou nos agendamentos lotados e nos longos prazos para receber as entregas. Aos 65 anos, asmática e hipertensa, ela se cerca da maneira que pode quando tem que sair: álcool em gel e máscara são artigos indispensáveis. Entre cientistas que estudam a Covid-19, vale o lema de que todo cuidado é pouco. Diferentemente de muitos cariocas por aí…

— Higienizo tudo o que compro. O que se pode lavar com água e sabão, eu lavo — explica a infectologista.

O cotidiano de pesquisadores também foi reconfigurado pela pandemia. Há os que tiram a roupa assim que chegam em casa; outros evitam abraçar até companheiros de anos. A proteção facial só é dispensada na intimidade do lar.

Morando sozinha, Tânia ainda organiza a volta dos pacientes presenciais. Para matar a saudade de um dos netos, que mora próximo, dá um alô de longe. Antes, costumava ir todos os meses ao Espírito Santo visitar uma das filhas. A saudade já se arrasta há quatro meses:

— Toda a minha família ficou isolada. Nos falamos todos os dias, mas é duro.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, de 57 anos, vive com mais duas colegas de profissão: a mulher, Ana Frota, e a filha, Luiza. No início da pandemia, o médico se absteve até de abraçar a companheira, com quem está desde a faculdade:

— Nunca vivi momento tão conturbado em 33 anos de medicina. Quando começou a pandemia, mal nos tocávamos.

Sem a cozinheira que ia uma vez por semana, a família se divide no fogão. Mas, à noite, cansados, muitas vezes apelam para o delivery. O infectologista evita encontrar o entregador pessoalmente. Em relação às embalagens, é mais despreocupado:

— Não temos costume de desinfetar embalagens pois estudos recentes já apontam que o risco de infecção é baixo. Vou ao mercado uma vez por semana, em horários não convencionais. Quando volto, desinfeto verduras, frutas e outros alimentos que comemos crus.

Apesar de já ter contraído a Covid-19, a pneumologista da Fiocruz Margareth Dalcomo não relaxa nos cuidados. A rotina é entre casa e trabalho, sempre com máscaras de tecido, em pares na bolsa para o caso de precisar trocá-las. Em seu carro, ninguém mais entra. Já os abraços e beijos ficaram para o futuro.

— Não sabemos por quanto tempo dura a imunidade de quem já pegou o coronavírus. É um cuidado consigo mesmo e com os outros — afirma ela, que tem 63 anos.

Fonte: Extra