Alimentos crus em tempos de coronavírus: veja que cuidados tomar

Atualizado em 13/8/2020

Nutricionistas explicam os benefícios da alimentação viva, inclusive para atletas, e a forma correta de higienizar e preparar a comida, especialmente durante a pandemia de Covid-19. Saiba ainda o que é o crudivorismo

Como higienizar e preparar corretamente frutas, legumes, verduras, sementes e oleaginosas quando o objetivo for consumi-los crus? Afinal, a ingestão de alimentos crus oferece vários benefícios para a saúde, mas por outro lado também pode causar doenças caso a higienização não seja a correta. Segundo dados do Ministério da Saúde, existem mais de 250 tipos de doenças transmitidas por alimentos (DTA), a maioria infecções causadas por bactérias, vírus e outros parasitas presentes na água e nos alimentos, tornando as DTA’s uma grande causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Com o crescimento de casos de Covid-19, o coronavírus entrou para essa lista, já que o vírus pode ser depositado nas superfícies dos alimentos por pessoas contaminadas que os manusearam nos mercados e feiras. Veja dicas das nutricionistas Malu Bastos e Luna Azevedo:

  1. Frutas e legumes devem ser lavados corretamente com água e sabão, com a ajuda de uma esponja ou escova para esfregar as cascas;
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  2. Folhas e verduras devem ficar de molho em uma solução de 1 colher de sopa de água sanitária ou cloro, para 1 litro de água, por pelo menos 15 minutos para serem higienizados. Após deixar de molho, é necessário lavar os alimentos em água corrente novamente antes de consumir;
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  3. Ovos devem ser armazenados dentro da geladeira. Não é aconselhado deixar na porta do refrigerador, porque neste local a temperatura varia muito e o alimento pode estragar com mais facilidade;
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  4. O ideal é que o ovo não seja consumido cru, e sim que seja fervido por ao menos três minutos, para se consumir ovos quentes, com gemas moles, e evitar a salmonela;
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  5. Lave os ovos apenas na hora de usá-los, para evitar a contaminação de impurezas da casca para a sua mão e daí, para o ovo. Nesse momento, use água e detergente, e pode até colocar em uma solução de água e hipoclorito. Não lave antes de colocar na geladeira, já que a casca tem uma película que protege o ovo da entrada de microrganismos;
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  6. O consumo de peixes crus, tanto no sushi quanto no ceviche, deve ser evitado em tempos de pandemia;
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  7. Carnes e frangos crus ou mal passados também devem ser evitados;
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  8. Os alimentos que não forem consumidos na hora devem ser armazenados em potes com tampa e colocados na geladeira para aumentar sua durabilidade.
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Crudivorismo: o que é?

As dicas acima valem para todo mundo que vá consumir algum alimento cru. Mas você sabia que há um grupo de pessoas que aposta numa alimentação em que a maior parte dos alimentos é consumida assim? A dieta crua, também conhecida como alimentação viva ou crudivorismo, segue um padrão alimentar que envolve o consumo somente de frutas, legumes, verduras, oleaginosas, cereais e sementes germinadas em seu estado cru ou preparados abaixo da temperatura de 45°C. Além disso, em sua forma mais estrita essa alimentação não inclui nada de origem animal. No entanto, alguns adeptos incluem ovos e peixes nas refeições. Normalmente esse padrão alimentar é recomendado como uma alimentação complementar ou circunstancial, mas muitos adeptos se alimentam com exclusividade da “comida viva” e fazem dela sua única fonte de nutrição. A alimentação crua também é uma boa aliada para as pessoas que consomem muitos produtos industrializados e sem valores nutricionais consideráveis.

A alimentação crua, especialmente de alimentos de origem vegetal, oferece benefícios como:

  • Auxilia na melhora da digestão de alimentos;
  • Ajuda no controle do peso corporal;
  • É aliada no fortalecimento do sistema imunológico;
  • Melhora da aparência da pele e dos cabelos.

De acordo com a nutricionista Malu Bastos, a dieta possui muitos benefícios para quem pratica atividades físicas. Um dos fatores é a melhora na saúde, devido a redução no consumo de alimentos ultraprocessados, ou seja, os que possuem grande carga de gordura trans, sódio e açúcares. Estes componentes estão intimamente ligados a doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes, portanto, os crudívoros estão menos propensos a estas enfermidades.

Além disso, a nutricionista destaca também que consumir alimentos crus ajuda o organismo a aproveitar mais os nutrientes, principalmente as vitaminas do complexo B e a vitamina C, que são facilmente perdidas durante o processo de aquecimento da comida. Malu Bastos frisa ainda outro ponto positivo desta dieta: ela previne o envelhecimento. O ato de dourar, assar, refogar, torrar, fritar ou grelhar a comida, provoca uma reação enzimática no alimento que atinge diretamente as células do corpo humano e envelhece a pele. Essa reação celular também é um fator de risco para o surgimento de outras doenças mais graves, como o Alzheimer.

Apesar dos diversos benefícios, a ingestão de alimentos crus também pode ser perigosa, principalmente em um momento onde mundo vive uma enorme pandemia. Recentemente, um estudo de caso, publicado no Journal of the American Medical Association, sugeriu que o Coronavírus poderia resistir a temperaturas mais altas (25°C a 41°C). Entretanto, muitos cientistas apontam que os resultados divergem com o senso comum de que o vírus teria uma capacidade de transmissão limitada em condições muito úmidas e quentes. De acordo com outra especialista, a nutricionista Luna Azevedo, a Organização Mundial de Saúde recomenda que o consumo de carnes cruas ou mal passadas seja evitado, já que muitos muitos microrganismos, incluindo o novo coronavírus, podem ser inativados quando são aquecidos a temperaturas em torno de 70°C. No caso dos alimentos de origem vegetal, a orientação é que seja feita a higienização adequada antes de armazenar (assim que os alimentos são comprados) e novamente antes de consumir.

Para os que desejam aderir à essa alimentação, é indispensável o acompanhamento nutricional. Isso porque, a transição de um tipo de alimentação para outra é um processo que exige um tempo para adaptação. O crudivorismo é um estilo de vida que tem como prioridade a saúde e por isso, o acompanhamento de um profissional é importante para evitar deficiências nutricionais.
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Carnes cruas na alimentação

De acordo com a especialista Luna Azevedo, deve-se evitar o consumo de carnes e peixes crus durante a pandemia. Na opinião da nutricionista, os riscos do consumo de carne crua não estão relacionados apenas à contaminação pelo novo coronavírus, mas também por enterobactérias (que vivem no trato intestinal), vírus e protozoários. Na carne bovina e de porco, podem ser encontrados salmonela (também encontrada no ovo), a shigella e escherichia-coli. No salmão, podemos encontrar listeria ou o parasita Diphyllobothrium latum. Todos esses microrganismos são prejudiciais à saúde humana e provocam doenças perigosas, que ainda por cima seriam um baque no sistema imunológico, que ficaria enfraquecido e mais sujeito a agravamentos da doença em caso de contágio por Covid-19. Contudo, caso os adeptos desejem consumir, devem optar apenas por alimentos de boa procedência e vindos de restaurantes confiáveis.

– O consumo de peixe cru, tanto no sushi, quanto no ceviche, deve ser realizado com cautela e, até mesmo, revisto, diante de todas as informações já mencionadas. O ceviche é marinado numa solução composta por óleo, especiarias e ácido, normalmente suco de limão. Os ácidos cítricos quebram a estrutura da carne crua, e esse é o processo de desnaturação, que ocorre também com calor (cozimento). Contudo, o ácido do suco de limão não tem a capacidade de matar todos os tipos de microrganismos que podem estar presentes no peixe, diferente do cozimento, que submete o alimentos à temperaturas que destroem os microrganismos. É válido evitar o consumo destes alimentos em tempos de pandemia – reforça Luna Azevedo.

Fonte: Eu Atleta/Globo